Condenado, ontem, pelo juiz Sérgio Moro, por envolvimento na vigésima sétima fase da Operação Lava Jato, batizada de “Carbono 14”, por lavagem de dinheiro no valor de R$ 6.028.000, o ex-tesoureiro nacional do Partido dos Trabalhadores, Delúbio Soares, esteve na Paraíba no final de 2011, numa visita à sede da OAB, para apresentar sua defesa em face das denúncias no “mensalão”, que o condenaram, e para pedir apoio. Ele foi recebido, como registram fotos da época, pelo então deputado estadual Luciano Cartaxo, na época do PT, hoje filiado ao PSD e prefeito licenciado de João Pessoa, pelo presidente da seccional da Ordem dos Advogados, Odon Bezerra, por Rodrigo Soares, que presidia o diretório regional petista e pelo advogado e sindicalista Anselmo Castilho.
Sérgio Moro condenou, ontem, além de Delúbio, o empresário Ronan Maria Pinto, Enivaldo Quadrado, Luiz Carlos Casante e Natalino Bertin, pelo crime de lavagem de dinheiro, consistente no repasse e recebimento, com ocultação e dissimulação, de produto de crime de gestão fraudulenta de instituição financeira”. A vigésima sétima fase tinha ainda como réu o ex-secretário Sílvio Pereira. Esta etapa investiga os beneficiários do empréstimo de R$ 12 milhões feito pelo pecuarista José Carlos Bumlai junto ao Banco Schachin. De acordo com o site de notícias UOL, as investigações apontam que Ronan Maria Pinto, empresário, dono do jornal Diário do Grande ABC, recebeu R$ 6 milhões do esquema de corrupção na Petrobras. A quantia, conforme o MPF, foi repassada por meio de um empréstimo de R$ 12 milhões feito pelo pecuarista José Carlos Bumlai junto ao Banco Schachin. Desse total, os outros R$ 6 milhões foram destinados a campanhas eleitorais com o apoio do PT. Parte desse valor teria sido repassado a Ronan, que esteve detido no Complexo Médico Penal em Pinhais, na região de Curitiba, mas que passou a cumprir pena de prisão domiciliar após pagar fiança no valor de R$ 1 milhão.
Na sentença, Sérgio Moro condenou Delúbio Soares a cinco anos de reclusão em regime fechado e declarou que o ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores tem “maus antecedentes” por já ter sido condenado no processo do “mensalão”. E observou Moro: “A lavagem, no presente caso, envolveu especial sofisticação, com utilização de duas pessoas interpostas entre a fonte dos recursos e o seu destino final, além da simulação de dois contratos falsos de empréstimo”. Delúbio Soares, formado em Matemática pela Universidade Federal de Goiás, passou temporada em João Pessoa, atuando no “campus” da Universidade Federal da Paraíba, antes de se filiar ao Partido dos Trabalhadores e entrar na militância política, nos anos 70. Ele foi coordenador nacional das campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva a presidente em 89 e 98 e em 2000 tornou-se tesoureiro nacional do Partido dos Trabalhadores. Partiu dele a expressão “dinheiro não contabilizado” para explicar recursos oriundos do caixa dois amealhados pelo PT e por outros partidos políticos.
Em meio ao bombardeio sofrido por ocasião do escândalo do mensalão, Delúbio participou da solenidade de posse da diretoria do sindicato dos professores de Goiânia e chorou três vezes, porém, sem se defender das acusações de que era inquinado. Argumentou, depois, que tudo não passara de uma conspiração da direita. “Imaginem vocês se o PT ia comprar votos de deputados, se ia carregar malas de dinheiro. E isso os caras falam na maior cara dura. Não têm prova. É mentira”. Delúbio atacava, sobretudo, órgãos da grande imprensa como a revista Veja e os jornais Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, que a seu ver estavam empenhados no impeachment do então presidente Lula. Logo, renunciaria à tesouraria do PT. Delúbio ainda chegou a receber manifestação de solidariedade por parte do ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Mas sua situação era insustentável diante das acusações e dos graves indícios apurados contra ele. Acabou sendo expulso por unanimidade dos quadros do Partido dos Trabalhadores, num período em que a cúpula apelou para a “faxina” como forma de dar satisfação à opinião pública. Retornou, depois, às fileiras da agremiação, mas foi mantido em “quarentena”. Agora, volta à evidência.
Nonato Guedes