O ministro Joaquim Barbosa, que teve projeção nacional a partir da sua atuação no âmbito do Supremo Tribunal Federal em relação ao julgamento do mensalão e de outros temas polêmicos, está no topo da lista de figuras públicas que desistiram de concorrer à Presidência da República, tornando o pleito, de certa forma, atípico. Além dele, engrossaram a lista de desistentes o presidente Michel Temer, que chegou a cogitar da reeleição pelo MDB, o apresentador da TV Globo Luciano Huck, o empresário Flávio Rocha e o senador Fernando Collor de Mello.
Joaquim Barbosa admitiu entrar no páreo diante de apelos insistentes de segmentos formadores de opinião que o consideraram expoente máximo da seriedade na política e no poder, em meio a tantos escândalos que ceifaram partidos e filiados, com desdobramento junto ao eleitorado do ponto de vista do desencanto. Sabia-se, desde o começo, que Joaquim Barbosa não seria uma pessoa de diálogo fácil. Isto foi constatado mais de perto pelos dirigentes e emissários do PSB, Partido Socialista Brasileiro, bombardeados com uma série de exigências do presumível postulante para aceitar o desafio. Foi o próprio Joaquim que, num rompante, jogou a toalha, e não é de todo improvável que o gesto tenha produzido alívio nas hostes socialistas.
Luciano Huck enfrentou uma fase de messianismo político, declarando-se ungido para cumprir uma missão na disputa presidencial deste ano e, concretamente, deu passos junto a lideranças políticas tradicionais para viabilizar uma suposta candidatura. Em meio a rumores de que teria ocorrido um veto formal da Rede Globo à postulação do apresentador, o marido da também apresentadora Angélica oficializou sua saída do páreo, mantendo o discurso de que continua preocupado em contribuir para equacionar graves problemas do país. A suposta candidatura de Huck fez lembrar a aventura do apresentador e dono do SBT, Sílvio Santos, na corrida de 89, em que tentou registrar-se como candidato a presidente, tendo como vice o senador paraibano Marcondes Gadelha. A chapa acabou sendo impugnada pelo TSE alegando dificuldades no PMB, partido pelo qual Sílvio concorreria, e também devido a pressões de candidatos como Fernando Collor de Mello, de forma subliminar, para impedir a candidatura de Sílvio.
O presidente atual, Michel Temer (MDB), chegou a jogar balões de ensaio para testar a receptividade de uma presumível candidatura sua a um novo mandato. Como contrapartida, recebeu notícias nada animadoras, entre as quais a de que a reprovação ao seu governo passara dos 60% – ultimamente vinha rondando a casa dos 80%. O MDB, por honra da firma, lançou como candidato o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meireles, que atuou nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e do próprio Temer. Meireles tem feito uma campanha descolada da imagem de Temer e do seu governo, mas nem por isso avançou substancialmente nas intenções de voto. Flávio Rocha desistiu de se candidatar ao perceber que não conseguira firmar imagem positiva junto a camadas influentes do eleitorado. E Fernando Collor de Mello, que sofreu impeachment em 1992, fugiu da raia ao descobrir que o PTC, a que é filiado, prioriza candidaturas regionais e a eleições proporcionais. Em consequência, Collor se registrou como candidato ao governo de Alagoas. Diz a colunista Dora Kramer, da revista Veja: – Nunca a política se assemelhou tanto como agora àquele lugar-comum que a compara como movimento das nuvens. Kramer prognosticou isso em julho. De lá para cá, o cenário continua sendo mais atípico ainda.
Nonato Guedes