Nonato Guedes
A recondução do deputado Adriano Galdino (Republicanos) para a presidência da Assembleia Legislativa, materializada ontem por unanimidade, cria uma história inédita na Casa de Epitácio Pessoa em termos de longevidade de comando, no período recente, e revela, claramente, os efeitos de uma ‘costura’ bem-sucedida nos bastidores, tendo ele próprio como protagonista maior mas contando com o concurso de outras lideranças que se mobilizaram para tal desideratum, a exemplo do governador João Azevêdo (PSB) e do presidente do partido de Galdino, deputado federal Hugo Motta. Aliás, a nova gestão a ser empalmada por Adriano deverá coincidir, segundo todos os prognósticos agitados, com a perspectiva de ascensão do deputado Hugo Motta ao comando da Câmara Federal, sucedendo a Arthur Lira (PP), o que realçará a condição de entrosamento entre as duas Casas Legislativas. É uma proeza e tanto, valendo ressaltar os méritos indiscutíveis do próprio Adriano, que demonstrou afeição pelo poder e, em outra ponta, habilidade indiscutível para compor o núcleo de condestáveis desse cenário influente.
Como foi lembrado, ontem, por alguns deputados, Adriano Galdino teve diante de si a possibilidade de ampliar a longevidade no comando da Assembleia, em 2015, quando deixou a oportunidade escapar, de modo que ela foi parar no colo do hoje deputado federal Gervásio Maia, do PSB. A ousadia que Adriano vem demonstrando no panorama político paraibano já lhe impôs o respeito por parte de aliados e de adversários – e em última análise terá sido essa obstinação o motor que cimentou as vitórias consecutivas alcançadas numa quadra importante da conjuntura política-partidária no Estado. Nesse caso da recondução para o biênio 2025-2026, convém recordar que a eleição por parte do colegiado se deu em fevereiro de 2023, concomitantemente à sua ascensão para o biênio da vez. Houve consenso naquela época, e ele se repetiu agora. Ou melhor, houve unanimidade, nas duas ocasiões em que o político interiorano decidiu colocar à prova o seu prestígio, a sua capacidade de liderança entre os deputados estaduais. Imobilizada diante da desenvoltura de Adriano nos seus passos, a bancada de oposição optou por compor-se com ele, para, pelo menos, garantir espaços na Mesa Diretora.
A Mesa praticamente aclamada na sessão de ontem, além de repetir o esboço da que havia sido eleita pelos parlamentares em 2023, reproduziu o caráter eclético que Adriano Galdino tem por norma imprimir à administração colegiada do Poder Legislativo Estadual. Dela fazem parte deputados do PP, do PSD, do PSB, do PT, do Solidariedade, do União Brasil, do PSDB, do PL e, naturalmente, do Republicanos, alguns ocupando posições estratégicas, outros promovidos na escala hierárquica do colegiado que pilota a Casa de Epitácio Pessoa. Para chegar a essa composição, o presidente Adriano Galdino investiu em todo o seu potencial de habilidade política, acomodando pretensões, privilegiando colegas em sistema de rodízio, alterando posições, de forma a que os partidos se sintam efetivamente representados na governança do Poder. Esse trunfo de Adriano deveu-se, em muito, ao seu “feeling” político e ao conhecimento peculiar que demonstra ter do ânimo psicológico dos parlamentares, com eles solidarizando-se até em questões que não dizem respeito, propriamente, à agenda legislativa, mas que levam em conta interesses legítimos dos deputados. Para chegar a esse estágio, Galdino aperfeiçoou-se na arte de fazer amigos ou de ampliar amizades e até mesmo relevar episódios desgastantes.
Um desses episódios, certamente, foi a Ação Direta de Inconstitucionalidade patrocinada lá atrás pelo Diretório Nacional do PSDB contestando processo de reeleição antecipada de Adriano Galdino para a direção do Legislativo Estadual. Esse caso teve nuances polêmicas e surpreendentes, dado que líderes tucanos na Paraíba, a partir do deputado Fábio Ramalho, presidente do PSDB, negaram autoria ou interesse em qualquer manobra para defenestrar Adriano do poder, originando tal quiproquó um verdadeiro samba do crioulo doido, uma vez que a Executiva Nacional acabou tomando a iniciativa de retirar a Ação de qualquer tramitação no âmbito de tribunais em Brasília, alegando que teria havido cometimento de gravíssimo equívoco e que tal restrição não envolvia, nem de longe, a Assembleia da Paraíba. Por razões táticas ou estratégicas, Adriano Galdino evitou levar a polêmica adiante, preocupado, também, em não produzir “factoides”. O outro episódio preocupante foi a ameaça, agora, de decretação de anulação da eleição antecipada para o biênio 2025/2026. Galdino agiu preventivamente, evitando pagar para ver.
Essas reações do presidente da Assembleia Legislativa da Paraíba revelam, no final das contas, maturidade política por parte do deputado Adriano Galdino, demonstrando estar preparado para enfrentar tempestades ou procelas por deter uma parcela de poder tão expressiva na escala hierárquica das instituições representativas da Paraíba. E é nessa evolução política de Adriano que prestam atenção os aliados e os adversários políticos, interessados em adivinhar até onde o expoente político avançará no seu projeto de poder. Em termos concretos, o presidente reeleito da Assembleia Legislativa mantém o interesse de sair candidato a governador nas eleições de 2026 pelo bloco liderado pelo governador João Azevêdo. Tem consciência de ambições concorrentes e prepara-se para a iminência de jogo pesado da parte de prováveis adversários, mas age de forma cerebral, elaborando sua própria estratégia e aguardando os desdobramentos do que vem pela frente. Adriano já ganhou o galardão de revelação política na Paraíba, isto é fora de qualquer dúvida.