Lembram do impeachment de Fernando Collor de Melo em 1992, acusado de conivência com PC Farias, entre outros quetais? Ele estava lá, no plenário e nos corredores da Câmara Federal, fazendo parte da tropa de choque que se incumbiu de defender o presidente de supostas aleivosias intentadas contra ele. Lembram do caso do mensalão, a mesada que o governo Lula e o PT pagavam a deputados de diferentes partidos para votarem matérias a favor do governo? Ele foi um dos beneficiários, juntamente com o seu partido, o PTB. Mas resolveu botar a boca no trombone, alertar o presidente Lula, que em princípio não deu ouvidos e depois se declarou apunhalado pelas costas por companheiros petistas.
Roberto Jefferson sim, estamos falando sobre ele era deputado federal pelo Rio de Janeiro. Foi alçado à presidência nacional do PTB, onde alargou sua influência sobre o cenário político brasileiro. Enfrentou tempestades bravias teve o mandato cassado, partiu para o corpo a corpo com adversários, ganhou a pecha de delator e sumiu do noticiário, com a voz de barítono e o corpo adiposo, que foi perdendo gorduras mediante lipoaspiração e outros tratamentos eficazes e indicados. Então! Bob Jefferson volta à cena, agora, em alto estilo, com a nomeação de sua filha, Cristiane Brasil, para ministra do Trabalho do governo do presidente Michel Temer, do PMDB.
Fui redimido, reagiu Jefferson emocionado. Ele preparou uma lista de nomes que submeteu à apreciação ou crivo do presidente da República. O nome da filha, por óbvio, estava no rol e logo Temer deitou os olhos no seu currículo e nas suas ligações afetivas e políticas. Jefferson foi às lágrimas. Ele protagonizou uma das cenas típicas da realidade política: o sobe e desce, ou se quiserem, a gangorra que é a vida do homem público no Brasil. Numa hora, está por cima, quer dizer, está no poder, com a caneta ao alcance para nomear ou exonerar. Em outra ocasião, estão comendo ostra, ou seja, relegados ao mais cruel ostracismo, por dá cá aquela palha. Nesta fase, não são ouvidos nem cheirados para nada. O telefone não toca, os convites desaparecem. Político no ostracismo parece figura que adquiriu doença contagiosa. Todo mundo quer distância deles. Daí ouvir-se com frequência o anátema de que há amigos do poder, não dos governantes. Os mineiros, escorregadios, quando flagrados em segundas núpcias políticas, reagiam candidamente: Não mudamos nada; continuamos com o poder. Independente de quem estivesse no poder.
Roberto Jefferson desceu do céu ao inferno e agora protagoniza novo capítulo na sua agitada trajetória política. Empolgado e rejuvenescido com a nomeação da filha para ministra, já anunciou que cogita voltar a disputar mandato de deputado federal. Talvez seja o caso de pedir música no Fantástico da Rede Globo, em homenagem a mais uma maquinação do poder.
Por Nonato Guedes
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