Numa entrevista concedida à revista Veja, que ocupou cerca de oito páginas, a propósito dos cinco meses do seu governo, o presidente Jair Bolsonaro, do PSL, reafirmou que se vingar no país uma boa reforma política ele topa ir para o sacrifício de não disputar a reeleição uma prerrogativa que a Lei lhe confere atualmente. O presidente disse que um dos grandes problemas do Brasil na política é a reeleição. O cara chega ao final do primeiro mandato dele, ou ele quer continuar no poder, que lhe deu fama e prestígio ou quer continuar porque se o outro, o adversário, assumir, vai levantar os esqueletos que ele tem no armário. Existe isso no Brasil. Então, o meu caso é o seguinte: com uma boa reforma política, que diminuiria o número de parlamentares de 500 para 400, entre outras coisas mais, eu toparia entrar nesse bolo aí de não disputar a eleição, frisou.
Indagado se já se acostumou com a função de presidente da República, Bolsonaro enfatizou: Já consegui fazer aquilo que prometi durante a campanha, coisa que eu desconheço que qualquer outro presidente tenha feito: indicar um gabinete técnico, respeitar o Parlamento e cumprir o dispositivo constitucional da independência dos Poderes. Agora, a pressão aqui é muito grande, tem interesses dos mais variados possíveis, tem aquela palavra mágica que a imprensa fala muito, governabilidade. Me acusam muitas vezes de não ter governabilidade. Eu pergunto: o que é governabilidade? Nós mudamos o jeito de conduzir os destinos do Brasil. Hoje, cinco meses depois, eu sinto que a maioria dos parlamentares entendeu o que está acontecendo. Muitos apoiam a pauta do governo. E esse apoio está vindo por amor à pátria, por assim dizer. A gente não pode continuar fazendo a política como era até pouco tempo atrás. Estávamos no caminho da Venezuela.
Bolsonaro admitiu que já passou noites sem dormir, já chorei pra caramba também. Tudo por causa de angústia de não poder levar à frente projetos que considera de interesse público. Ele considera que está faltando o mínimo de patriotismo para algumas pessoas que decidem o futuro do Brasil. O pessoal não está entendendo para onde o Brasil está indo. Não preciso dizer quem são essas pessoas. Elas estão aí. Imaginava que ia ser difícil, mas não tão difícil assim. Essa cadeira aqui é como se fosse criptonita para o Super-Homem. Mas é uma missão, entendo que Deus me deu o milagre de estar vivo. Nenhum analista político consegue explicar como eu cheguei aqui, mas cheguei e tenho de tocar esse barco, acrescentou. O presidente voltou a insistir na importância da aprovação da reforma da Previdência, salientando que se isto não ocorrer o Brasil será ingovernável daqui a um, dois, três anos. Se a reforma da Previdência não passar, o dólar pode disparar, a inflação vai bater à nossa porta novamente e, do caos, vão florescer a demagogia, o populismo, quem sabe o PT, como está acontecendo com a volta de Cristina Kirchner. O Brasil não aguenta outro ciclo assim.
Ainda na entrevista à Veja, o presidente da República comentou críticas feitas no Twitter pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, que cumpre pena na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Ele (Lula) saiu de uma situação de líder para a de um cara preso, condenado por corrupção. Apesar disso, não tenho nenhuma compaixão por ele. Ele estava trabalhando para roubar também a nossa liberdade, expressou. Bolsonaro admitiu erros cometidos à frente do governo nesta fase inicial mas salientou que tem tido a humildade de procurar corrigi-los e lamentou os problemas ocasionados no ministério da Educação, com a troca de titulares. Conforme assegurou, continua implacável contra a corrupção. Mas não posso punir ninguém antes de a culpa ficar minimamente demonstrada, advertiu. Sobre a agressão sofrida na campanha em Juiz de Fora quando foi esfaqueado pelo ex-garçom Adélio Bispo, disse que continua convencido de que foi um crime encomendado. É tudo muito suspeito, reagiu, comentando os indícios que aparentemente incriminam seu agressor.
Nonato Guedes