É assaz notória a incapacidade do candidato do PT a presidente da República Fernando Haddad em tocar a campanha neste segundo turno sem os cochichos, ao pé do ouvido, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o ungiu e que sofre restrição quanto à liberdade de movimentos por estar encarcerado em Curitiba, cumprindo a pena que lhe foi atribuída no rescaldo de escândalos nada republicanos. Não pensem que esse é um problema menor. É o grande problema, que divide o PT e que pode vir a ser resolvido, inclusive, em assembleia, pela urgência e imprescindibilidade de uma estratégia mais adequada para abater o fenômeno Jair Bolsonaro.
Lula da Silva tirou o nome de Haddad do bolso do colete na cela da Superintendência da Polícia Federal durante uma conversa com próceres petistas que estão fazendo romaria à capital do Paraná como parte do ritual para adquirir luzes que só o amado Mestre, o intuitivo Lula, pode fornecer. Ocorre que as visitas de Haddad a um presidiário não estavam pegando bem para a campanha. Além de passarem a ideia de que o ex-prefeito de São Paulo é um teleguiado, sem as mínimas condições para agir sozinho, as visitas sinalizaram um provável aceno de Haddad com vistas a anistiar Lula e tirá-lo da prisão, se eleito presidente, com isto mandando para o beleléu todo o catatau colhido pelos investigadores da Lava-Jato. Foi tão ostensiva a combinação que Haddad foi obrigado a desmentir a si próprio e, como de hábito, debitar a culpa a jornalistas inimigos do PT e do companheiro Lula, que teriam distorcido o seu palavrório. Certo, Odorico Paraguaçu não faria melhor.
E, então, o amado Mestre Lula da Silva acordou num dos seus dias de tensão pré eleitoral e rascunhou o recado de que Haddad evitasse ir à Meca, ou seja, a Curitiba e cuidasse mais dos afazeres de campanha, até porque o seu grande desafio é justamente manter o quinhão de votos do primeiro turno que o empurrou para o segundo e ampliar esse quinhão de modo a tornar-se dono da cadeira do Planalto a partir de 2019. O tempo ruge, como dizia Giovani Improta, e por isso mesmo impõe agilidade de movimentos, até porque não se está diante de um adversário que possa ser tido como cachorro morto. Bolsonaro nunca esteve nesse figurino e favoreceu-se, até mesmo, quando foi sordidamente esfaqueado num evento em Juiz de Fora. Logrou ficar incólume, ainda, quando o economista Guedes que recrutou para a equipe andou falando demais ou quando o general Mourão, que é vice do capitão, igualmente exagerou nas boutades de campanha.
Não há dúvidas de que estará mentindo descaradamente quem ousar dizer que esta é uma campanha normal. Desde o começo foi atípica, a partir da inovação adotada pelo guru do PT Lula da Silva no sentido de formar uma chapa tríplex, que o incluía e a Fernando Haddad e Manuela DAvila. Dizem que a chapa tríplex foi uma sádica homenagem ao imóvel que os empreiteiros doaram a Lula e que acabou custando sua prisão, ultimamente leiloado e arrematado por um excêntrico interessado em descobrir pontos turísticos atraentes no cipoal de ofertas do mercado do entretenimento. Quanto à campanha de Haddad, algum jeito terá que ser encontrado para que ele não venha a perder a conexão com o Mestre Lula. Se isto acontecer, será o fim da aventura humana no território petista e da nossa criativa política.
Nonato Guedes