Caso Luiz Inácio Lula da Silva não possa ser candidato nas eleições do próximo ano, o Partido dos Trabalhadores poderia apoiar um outro candidato de esquerda mais bem posicionado nas pesquisas, como Ciro Gomes (PDT), por exemplo. Correto? Nem tanto. Uma postagem do professor e cientista político Flávio Lúcio Vieira expôs as feridas que existem nas relações entre Ciro Gomes e o PT.
Em sua postagem, Flávio Lúcio transcreve frase do governador Ricardo Coutinho (PSB) sobre o exclusivismo do PT citando, como exemplos disso, a ideia do boicote levantada por a presidenta do partido, Gleyse Hoffman, além do lançamento do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, à Presidência. Se o PT não fosse mesmo exclusivista, o apoio a Ciro Gomes seria o caminho natural não apenas por retribuição à lealdade de Ciro Gomes, mas, sobretudo, por ser ele o candidato da esquerda melhor posicionado com Lula fora da disputa. Não tenho dúvida que o apoio de Lula e do PT a Ciro Gomes o colocaria com folga no segundo turno e o tornaria um dos candidatos favoritos à vitória em 2018, analisou.
O comentário do professor Flávio Lúcio provocou a imediata reação de filiados e políticos ligados ao PT. Jackson Cunha foi o primeiro a responder: Companheiro, o PT não pode de jeito algum ter outra diretriz caso o Lula seja impedido de candidatar – se! A postura da nossa presidenta Gleise é acertada, pois, eleição sem Lula é mais uma faceta do golpe e irá pôr, mais uma vez, em xeque o nosso sistema político! Boicotar as eleições de 2018 caso as mesmas sejam anti- democráticas é a mais acertada decisão que o PT poderá ter nos últimos tempos e, o certo é que o PT não dispute nada, nenhum estado, nenhuma cadeira de Senado ou Câmara! O PT deverá sim se concentrar na exposição nacional e internacional desse golpe nefasto que estamos vivendo que irá ter como ápice uma possível condenação, SEM PROVAS, da maior liderança política da esquerda brasileira!.
Charliton Machado, ex-presidente do PT, comentou: Em parte concordo com a tua avaliação: da necessidade de unificação das esquerdas no Brasil. Difícil tarefa desde a redemocratização em 1985. É fato que no cenário de 2018 não cabe exclusivismo de ninguém. Nem do PT, nem de RC, nem de Ciro Gomes. Quanto ao pré-candidato Ciro Gomes, cabe indagar: ele quer mesmo o apoio de Lula e do PT em 2018? Parece q não! Quem quer apoio e se propõe a liderar uma coalizão de centro esquerda, inclusive, com apoio de uma liderança como Lula (se não for candidato) e do próprio PT, não pode cair nos encantos eleitoreiros à direita, fazendo coro aos discursos de ataques “moralistas” em prol da pseudo justiça de Curitiba (esse papel já cabe a Dória e Bolsonaro). Não custa lembrar q nas duas eleições q disputou e perdeu no primeiro turno, Ciro foi tragado pela vaidade e pelos impulsos irracionais. É de sua natureza o centralismo das decisões de campanha, incorrendo algumas vezes em erros banais de avaliação política nacional.
Jackson Macedo, atual presidente petista no estado, completou: Ciro é um grande quadro e merece ser levado em consideração para 2018. Acho inclusive que ele deveria ser candidato com ou sem Lula. Agora: Ele precisa compreender que a base de esquerda e progressista no país está em disputa. Ultimamente ele tem sinalizado para fora desta base inclusive atacando Lula e o PT.
Confira, a seguir, a postagem de Flávio Lúcio Vieira na íntegra:
Ricardo Coutinho chamou o PT de exclusivista em razão da possibilidade do partido boicotar a eleição de 2018 caso Lula não possa ser candidato. Concordo com o governador. Nada explica melhor o exclusivismo do PT que essa ideia do boicote, levantada por ninguém mais que a presidenta do partido, Gleyse Hoffman. O mesmo pode ser dito do lançamento do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, à Presidência.
Ciro Gomes manteve o apoio ao PT em todas as eleições presidenciais de 2006 para cá. Em 2010, foi o coordenador geral da campanha de Dilma. Foi também um importante ministro do primeiro governo Lula. No Ministério da Integração Nacional, Ciro foi responsável pela proposta da Transposição do Rio São Francisco, ocasião em que rodou o país enfrentando um duro debate contra os interesses do agronegócio do Vale do São Francisco, contra os economistas neoliberais, contra o MPF, o TCU, a bancada paulista e mineira, contra movimentos ambientalistas, inclusive setores do MST. Defender a transposição, hoje, é fácil.
Em 2010, Ciro Gomes foi preterido, mas mesmo assim apoiou Dilma, mesmo se opondo com dureza ao fortalecimento do PMDB na aliança. Em 2014, Ciro apoiou de novo Dilma, sendo uma das poucas vozes a denunciar, antes do país se estarrecer com as revelações recentes, a quadrilha de Temer e de Eduardo Cunha. No Ceará, o PT recebeu no colo o governo do estado. O atual governador, Camilo Santana, recebeu o apoio de Cid e Ciro Gomes. A resposta do PT? Lançamento da candidatura de Luizianne Lins contra a reeleição de Roberto Cláudio, candidato de Ciro e Cid Gomes à Prefeitura de Fortaleza.. Luizianne sequer foi para o segundo turno.
Se o PT não fosse mesmo exclusivista, o apoio a Ciro Gomes seria o caminho natural não apenas por retribuição à lealdade de Ciro Gomes, mas, sobretudo, por ser ele o candidato da esquerda melhor posicionado com Lula fora da disputa. Não tenho dúvida que o apoio de Lula e do PT a Ciro Gomes o colocaria com folga no segundo turno e o tornaria um dos candidatos favoritos à vitória em 2018.
Por Linaldo Guedes