Em princípio, o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, um dos mais bem avaliados políticos e governantes do Partido Socialista Brasileiro-PSB, é simpatizante da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a presidente da República nas eleições deste ano. Expoentes da cúpula nacional socialista acreditam, porém, que podem vir a sensibilizar o gestor paraibano a apoiar a candidatura própria do ex-ministro Joaquim Barbosa, que foi presidente do Supremo Tribunal Federal. Essa candidatura de Barbosa está sendo articulada por uma ala do PSB como contraponto à facção que defende o apoio do PSB à pré-candidatura do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB. A renúncia de Alckmin para efeito de desincompatibilização favorecerá a ascensão ao governo paulista do vice Márcio França, que é filiado ao PSB.
As questões regionais, contudo, deverão ter peso substancial no posicionamento definitivo que o PSB adotar quanto à eleição presidencial deste ano. O quadro da Paraíba é mencionado como exemplar. Aqui, o governador Ricardo Coutinho manteve, por um tempo, aliança com o senador Cássio Cunha Lima, principal figura do PSDB no Estado e vice-presidente do Senado Federal. Em 2010, Ricardo venceu a disputa ao governo contra José Maranhão (pelo antigo PMDB) contando com o apoio de Cássio Cunha Lima. As divergências, entretanto, logo se acentuaram entre o tucano e o socialista e na eleição de 2014 Ricardo concorreu à reeleição enfrentando como principal adversário o senador Cássio Cunha Lima, que foi derrotado no segundo turno. O antigo PMDB lançou a candidatura do então senador Vital do Rêgo Filho, que hoje é ministro do Tribunal de Contas da União.
A hipótese de apoio à candidatura de Joaquim Barbosa, se ela for concretizada, empolgaria o governador Ricardo Coutinho por outras razões, afora a imagem positiva que aparentemente o ex-presidente do STF detém junto a parcelas do eleitorado. É que Joaquim Barbosa, como relator do processo envolvendo o então senador Ronaldo Cunha Lima no caso do atentado contra o ex-governador Tarcísio Burity no restaurante Gulliver em João Pessoa, inclinou-se pela condenação de Ronaldo, alegando ter ficado evidenciado o seu propósito de atentar contra a integridade de Burity. A renúncia de Ronaldo ao mandato, a pretexto de que preferia ser julgado sem imunidade parlamentar, acabou desnorteando Joaquim Barbosa, tendo em vista que o processo saiu de sua alçada e voltou para instâncias menores em João Pessoa, onde Ronaldo não foi, sequer, submetido a júri popular.
O ex-ministro Joaquim Barbosa ainda não está formalmente filiado ao Partido Socialista Brasileiro, mas desde que se aposentou da Corte Suprema ele tem sido assediado para ingressar na agremiação. O PSB tenta ocupar espaços políticos no cenário nacional valendo-se do inferno astral que está sendo vivido pelo ex-presidente Lula, interessado em concorrer novamente à presidência da República mas ameaçado de prisão em plena campanha eleitoral diante das condenações decretadas pelo juiz Sérgio Moro e pelos desembargadores do Tribunal Federal Regional de Porto Alegre. Ricardo Coutinho não tem o menor interesse em hostilizar Lula, inclusive porque o trouxe à Paraíba junto com a ex-presidente Dilma para a inauguração informal das obras de transposição do rio São Francisco. Mas Ricardo não seria indiferente à candidatura de Joaquim Barbosa, conforme avaliam setores da cúpula nacional socialista.
Nonato Guedes