Há cinco anos o poeta e ex-governador Ronaldo Cunha Lima se despedia da vida. Aos 76 anos de idade, perdera a batalha contra uma insuficiência respiratória decorrente de câncer de pulmão. Morreu na manhã do dia sete de julho de 2012 em sua residência no bairro de Tambaú em João Pessoa, deixando um legado marcante na vida pública. De vereador a senador, passando por governador, exerceu praticamente todos os postos da hierarquia política. Costumava brincar dizendo que só lhe faltava o cargo de presidente da República. Mas chegou a ser cogitado como candidato a vice numa chapa encabeçada pelo político paulista Orestes Quércia na eleição de 1994.
Natural de Guarabira, mas com trajetória política firmada em Campina Grande, Ronaldo deixou como grande herdeiro na política o filho Cássio Cunha Lima, que atualmente é primeiro vice-presidente do Senado Federal e se projeta como uma das figuras de expressão do PSDB nacional, tendo tido papel relevante em discursos pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, do PT. Ronaldo atuou, ainda, como advogado, promotor de Justiça e professor. No primeiro volume da Coleção Senadores da República: discursos memoráveis, editada pelo Instituto Legislativo Brasileiro, o presidente do Senado Eunício de Oliveira (CE) refere-se a Ronaldo como “um dos homens mais cultos, mais brilhantes e, ao mesmo tempo, mais simples que passaram por esta Casa”.
Cássio Cunha Lima reforça os depoimentos sobre o legado deixado pelo pai, Ronaldo Cunha Lima. “Ele exerceu todos os cargos eletivos a que teve acesso e o fez com muito espírito público”, afiançou Cássio, que atualmente é o primeiro vice-presidente do Senado Federal e ocupa a presidência em virtude de Eunício de Oliveira estar no exercício da presidência da República. Cassado pelo regime militar, Ronaldo teve interrompido o mandato de prefeito de Campina Grande, que conquistara nas urnas em 1968. Permaneceu apenas 43 dias na prefeitura. Em 1982, com a anistia e a retomada dos direitos políticos, voltou a disputar a prefeitura de Campina. Vitorioso, ganhou mais dois anos de mandato, devido a um dispositivo apresentado no Congresso que prorrogava mandatos de gestores municipais a pretexto de coincidência geral no País. A despeito da militância política intensa, era como poeta que Ronaldo se realizava plenamente. Ele se elegeu governador em 1990, no segundo turno, enfrentando um político considerado “bom de urna” – Wilson Braga, que não obstante já havia perdido a vaga de senador em 86 para Raimundo Lira, hoje líder do PMDB no Senado Federal.
À frente do governo do Estado, juntamente com seu vice, Cícero Lucena, Ronaldo cravou um feito ao conseguir junto ao governo federal a reabertura do banco estadual de fomento – o Paraiban, cuja liquidação extrajudicial havia sido decretada pelo governo do ex-presidente Fernando Collor de Melo. No Senado, Ronaldo teve uma das mais brilhantes atuações parlamentares, destacando-se como parecerista respeitável de matérias polêmicas cuja constitucionalidade era submetida à apreciação do plenário. Um outro momento delicado vivido por Ronaldo deu-se quando governador, em meio a um incidente no restaurante “Gulliver”, na Capital paraibana, em que ele atirou contra o ex-governador Tarcísio Burity, no auge de acalorada briga política. O poeta pediu perdão publicamente a Burity pelo seu gesto. Amanhã, às 16h, na Igreja do Carmo, em João Pessoa, a viúva de Burity, Glauce, e os filhos Tarcísio, Maurício, Leonardo e André Luís mandam celebrar missa pelos 14 anos de falecimento do ex-governador.
Nonato Guedes