Sessenta membros do Partido dos Trabalhadores na Paraíba abandonaram a agremiação em pleno processo de montagem do PT e anunciaram propósito de ingressar no PMDB, causando a dissolução da comissão provisória que vinha sendo articulada em João Pessoa. A debandada veio a público em março de 1981 e o documento de rompimento, encabeçado pelo universitário Wanderly Farias, integrante das comissões regional e nacional do petismo, acusava o partido de não aprofundar o combate ao regime militar, sendo mencionada como exemplo a recusa a empunhar a bandeirada Constituinte. Um dado interessante é que o presidente nacional do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, não deu importância à crise que era visível.
Lula disse, na época, ao jornal O Estado de S. Paulo, que o que tinha havido fora apenas uma depuração que já era prevista. Aconteceu que os companheiros, que nunca estiveram preocupados em ver a classe trabalhadora organizada, se afastaram porque a classe trabalhadora não quer ser instrumento, ela quer andar pelas próprias pernas. Deu-se, então, uma definição por classes. Aqueles companheiros se sentiam mal ao lado dos trabalhadores, preferindo optar pela atuação junto aos liberais, como eles próprios afirmaram. Isso em nada afetou ou afetará o crescimento do PT, desdenhou Lula.
Na Paraíba, o PT tinha apenas sete comissões provisórias formadas e precisava atingir o mais rapidamente possível o quórum mínimo de 35 comissões. A cúpula nacional petista procurou mostrar que a rebelião paraibana não teria qualquer reflexo no processo de legalização nacional do partido, até porque já estava estruturado em treze Estados e a Paraíba não se incluía. As exigências legais que asseguram o registro definitivo já estão cumpridas, declarou Marcos Aurélio Ribeiro, líder do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo. O documento dos dissidentes da Paraíba reclamava que o PT mantinha-se aferrado à defesa de reivindicações específicas, sem entender que a conquista de melhorias salariais e de vida, por si só, não liquida o regime militar. E acrescentava:
– O Partido dos Trabalhadores, na verdade, muito pouco tem contribuído para a unidade das oposições. Partindo de uma visão individualista e sectária, considera os demais partidos de oposição seus inimigos e faz questão de não se misturar. Evita a unidade nos enfrentamentos concretos e nas lutas políticas fundamentais. Além disso, não representa a classe operária brasileira, pois um partido da classe operária não contribui para a divisão da classe nem defende a manutenção do capitalismo sob nova roupagem.
A fase de estruturação do Partido dos Trabalhadores na Paraíba foi marcada, de fato, pelo radicalismo. Dirigentes locais chegaram a vetar o ingresso do ex-senador Marcondes Gadelha, que era considerado burguês e negaram apoio à candidatura de Antônio Mariz ao governo do Estado, qualificando-o como reformista e descendente do partido que deu sustentação ao regime militar, a Arena, embora Mariz tivesse participado de um grupo renovador e votado contra matérias de interesse do regime, sendo avaliado pelo Diap como Constituinte Nota Dez.Havia divergências em outros Estados, como o Espírito Santo, onde dirigentes de 15 sindicatos reagiram contra grupos que controlavam a executiva regional petista. Mais tarde, o PT na Paraíba se abriu para alianças em Campina Grande, a militante Cozete Barbosa foi admitida como candidata a vice-prefeita na chapa do prefeito eleito Cássio Cunha Lima (PSDB). A nível estadual, o PT fez alianças com o PMDB em 2006 e 2010 para disputar o governo da Paraíba, indicando candidatos a vice de José Maranhão Luciano Cartaxo, em 2016, e Rodrigo Soares em 2010. A chapa Maranhão-Luciano perdeu para Cássio Cunha Lima e só assumiu em fevereiro de 2009 com a cassação deste pelo Tribunal Superior Eleitoral. Em 2010, a chapa Maranhão-Rodrigo Soares perdeu para Ricardo Coutinho. Atualmente, Ricardo Coutinho está em processo de reaproximação com os petistas locais, tendo lançado a candidatura do deputado federal Luiz Couto ao Senado, sem êxito, porém.
Nonato Guedes