Não assisti ao primeiro debate entre candidatos a governador da Paraíba na campanha deste ano, mas parabenizo a escolha do jornalista Heron Cid como mediador, na TV Arapuan, por tratar-se de figura qualificada e experiente nesse mister em outro canal local. O bom do debate é sempre a repercussão e falo isto porque fui o primeiro profissional de imprensa a mediar confrontos na televisão, mais precisamente na afiliada da Globo, a Cabo Branco. Ora entre aspirantes ao Palácio da Redenção, ora entre pretendentes à prefeitura de João Pessoa. Foram debates que renderam muitas histórias de bastidores, retidas na minha memória e de outros colegas que atuaram nas empreitadas jornalísticas.
A repercussão dos debates, hoje, é mais instantânea, tem maior alcance, porque se dá através das chamadas redes sociais. Desde ontem à noite e já cedinho, hoje, pipocaram comentários, ora imparciais, ora denotando preferências ostensivas, ora simplesmente avaliando o desempenho dos participantes do debate, em instrumentos influentes como o Facebook. Não faltaram memes depreciativos a candidatos a governador, acompanhados de opiniões justificando as ironias. Pelo que li, Lucélio Cartaxo e José Maranhão, não por acaso um dos mais jovens e, certamente, o mais idoso candidato a governador, foram figurinhas fáceis na exploração midiática. Lucélio, por alegado despreparo, derrapando na abordagem de temas como recursos hídricos, que quem domina muito bem é João Azevedo, o candidato do governador Ricardo Coutinho, também presente junto com Tárcio Teixeira, do PSOL.
Lucélio foi ironizado, também, por parecer um alter-ego do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, não fosse ele irmão gêmeo do alcaide, ambos filiados ao Partido Verde. Abstraindo essa parte, que fica como nota de picardia de alguns internautas, o alegado despreparo de Lucélio poderia ter sido neutralizado com sabatinas constantes, internamente, no seu núcleo, justamente a respeito de assuntos com os quais ele não tem maior intimidade. Ninguém é obrigado a saber de tudo, mas um candidato a governador deve ter propostas seguras, concretas, para qualquer área de estradas a atividades culturais. É o ônus da candidatura. Se Lucélio estiver sendo alvo de uma estratégia que consiste em expô-lo o mínimo possível em questões polêmicas, sua assessoria estará prestando um enorme desserviço a ele. Não é poupando quem quer que seja de desafios que se vai ajudar a preparar essas pessoas a encarar os tais desafios. A tática do staff de Lucélio precisa ser refeita com urgência, para ontem.
José Maranhão agrega uma vantagem e uma desvantagem. A primeira, a vantagem, é a experiência, explicável pela circunstância de ter sido governador por três mandatos. Tem um mapa das realizações recentes empreendidas na Paraíba e das prioridades que ainda precisam ser encampadas por governantes. Mas se trai, algumas vezes, na citação de números, de nomes de cidades ou até de siglas de programas administrativos essa é a desvantagem, não fosse o fato de que a idade nasce para todos. Enfim, temos o neófito em debates João Azevedo, que tende a ser presa fácil de algumas armadilhas dos adversários, por ser correia de transmissão do desgaste do governo de Ricardo. Mas que pode passar a imagem de um candidato com a mente arejada, possível de implantar mudanças fundamentais na Paraíba. É o que há para ser dito, no começo do jogo. O debate é sempre uma faca de dois gumes que os atuais candidatos não percam de vista esse mantra.
Nonato Guedes