O bom senso decreta que é permitido debater quaisquer assuntos numa campanha eleitoral ao governo do Estado, desde que sejam, de fato, de interesse público e estejam embasados em alegações seguras ou pertinentes. Especialmente na atual conjuntura nacional, que atravessou uma greve de caminhoneiros com reflexos colaterais na vida da sociedade em geral, é salutar a discussão de problemas que afetem a população e mais salutar, ainda, o oferecimento de propostas novas, criativas e, por via de consequência, eficazes. O cidadão comum é penalizado na Segurança, na Saúde e na Educação e, naturalmente, quer testar o fosfato dos candidatos para a apresentação de propostas em paralelo com a argumentação que as fundamente.
Um dos pré-candidatos ao governo, Lucélio Cartaxo, do PV, deu a partida para folclorizar o debate e empobrecer a campanha ao escolher como prioridade máxima o lero-lero sobre o destino da Granja Santana, residência oficial do governador, que o postulante quer converter em parque de diversões para a gurizada. O debate é suscitado a partir de denúncias sobre gastos excessivos na manutenção da Granja pelo seu inquilino atual, o governador Ricardo Coutinho. É um assunto requentado, que ganhou visibilidade na mídia nacional ao tempo em que Ricardo era casado com a jornalista Pâmela Bório e pipocaram informes sobre despesas descomunais, inclusive, com o enxoval de um bebê do casal, o que atraiu a atenção do Tribunal de Contas do Estado e deu mote para a eclosão de um bloco carnavalesco intitulado Eu quero morar na Granja.
Abstraindo o inegável senso de humor dos promotores do bordão carnavalesco, a discussão sobre o destino da Granja é feita de forma enviesada. O problema não é a Granja, em si, mas a ostentação dos gastosque são feitos com o dinheiro do contribuinte. Um governante que preze o erário rechearia de transparência máxima a publicização de despesas com comida, enxoval e até bebida. Seria o meio para provar que não há excessos nem mordomias e que a conta do mês bate com as necessidades do governante de plantão e da entourage que o cerca. Como não é praxe essa transparência, é inescapável a insinuação sobre farra com o dinheiro público. Mas poderia ser simples e diferente, vale repetir, de tal sorte que o custo de morar na Granja seja compatível com o diagnóstico de pobreza e de carências da Paraíba, Estado que tem perdido posições no ranking regional do desenvolvimento econômico e social.
A Granja Santana é um imóvel que foi adquirido pelo ex-governador João Agripino, eleito no final da década de 60, para suprir um problema incômodo: na época, os governadores da Paraíba residiam no Palácio da Redenção, no centro da cidade, onde a privacidade era zero e grande era a dificuldade de recepcionar presidentes da República e autoridades de outros escalões que aqui aportam. O governante não é obrigado a morar na Granja. Cássio Cunha Lima, por exemplo, que tinha neuras em relação à Granja, ocupava o imóvel situado em Miramar para despachos e reuniões com secretários. Cássio, porém, residia num condomínio na Capital, onde dava vazão a momentos de privacidade e lazer com a família. Ressalte-se, porém, que a despesa na contabilidade do governador continuava custeada pelo erário, ou seja, com dinheiro do contribuinte.
Mentor, junto com o irmão gêmeo Luciano, prefeito reeleito da Capital, de um bloco carnavalesco intitulado Picolé de Manga, o pré-candidato a governador Lucélio Cartaxo tenta ridicularizar o governo de Ricardo com os gastos da Granja e se propõe a tornar o imóvel um imenso parque recreativo para deleite de crianças e adolescentes, a custo zero para estes. É a velha fórmula do circo em primeiro lugar, acima do pão. Que planeja fazer o pré-candidato Lucélio para que a Paraíba deslanche na rota do desenvolvimento? Isto ele não diz, ou porque não conhece os números da realidade do Estado ou porque talvez ache enfadonho partir para esse tipo de discurso. Já tivemos debate em campanha a prefeito da Capital em que a principal pergunta de um candidato ao seu competidor era sobre onde ficava o ponto geodésico de João Pessoa, um truque, naturalmente, para desmontar o adversário, que nem de ponto geodésico entendia. Quanto à Granja Santana, há boas histórias que por lá rolaram- uma delas sobre gansos da oposição que eram tratados a pão-de-ló pelo governador Tarcísio Burity. Mas isto é outro capítulo…
Nonato Guedes