A França ganhou com méritos a Copa Mundial de futebol na Rússia e a carismática seleção da Croácia foi a vice-campeã, também com galhardia. O Brasil, cuja Seleção derrapou melancolicamente no meio do caminho, volta-se, agora, para a fase eliminatória da eleição de 2018. Pela lei, os partidos devem realizar convenções e registrar seus candidatos até agosto. Mas há muita indefinição no ar, em termos de chapas e de alianças partidárias que vão segurar a disputa à Presidência da República.
De concreto, mesmo, a abundância de pré-candidatos à cadeira de Michel Temer no Palácio do Planalto. Recente matéria da revista Veja atribuiu a proliferação de pré-candidaturas à Presidência a uma combinação de fatores, a partir da prisão do ex-presidente Lula da Silva (PT), que mantém altos níveis de popularidade nas pesquisas a prisão de Lula gerou dispersão na esquerda, com partidos que marcharam ao lado do PT nas últimas eleições lançando concorrentes próprios, como o PDT e PCdoB.
Do centro para a direita, o PSDB também perdeu sua força aglutinadora. Como os petistas, os tucanos foram atingidos em cheio pela Lava-Jato além disso, associaram-se ao governo de Michel Temer, o mais impopular desde a redemocratização, o que serviu de estopim para o desgaste de sua imagem perante o eleitorado. Com PT e PSDB em apuros, acrescenta a matéria da Veja, abriu-se uma avenida para que outros atores subissem ao palco e criou-se, assim, um cenário contraintuitivo. De acordo com o Datafolha e o Ibope, os líderes nas intenções de voto são Lula e o deputado Jair Bolsonaro, um capitão reformado do Exército radical de direita e assumidamente ignorante em assuntos como economia. Atrás deles aparecem os ex-ministros Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT), considerados de centro-esquerda.
Nos cenários sem Lula, que está preso e inelegível, Bolsonaro lidera, seguido de Marina e Ciro. O candidato mais bem colocado da centro-direita é o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB, que já teve 37 milhões de votos quando disputou a Presidência em 2006 mas hoje não alcança dois dígitos nas pesquisas. Os demais expoentes dessa corrente figuram com 1%, ou seja, estão em situação ainda pior casos do ex-ministro da Fazenda, Henrique Meireles (MDB), do deputado Rodrigo Maia (DEM), cuja desistência é aguardada a qualquer momento, e do empresário Flávio Rocha, do PRB, que já ensaiou movimentos no rumo da desistência.
Cientistas políticos avaliam que se não houver união dos candidatos de centro-direita, nenhum deles deverá chegar ao segundo turno. Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, diz que o cenário mais provável é uma redução do número de candidatos, em especial no campo da centro-direita, em que há maior pulverização e onde o risco de não ir para o segundo turno é significativo, dada a posição de Bolsonaro nas pesquisas. A pulverização seria menor se Alckmin conseguisse atrair apoios, o que ele tem tentado, mas sem sucesso.
Há um consenso, ou uma concordância, entre analistas em geral, de que a eleição presidencial de 2018 é inteiramente atípica e poderá ter desdobramentos inimagináveis até agora. Uma indagação paralela é sobre qual o peso que terão as máquinas partidárias. O PSDB, por exemplo, tem supremacia em termos de máquina enorme em relação ao PSL, que é o partido de Bolsonaro. Pela lógica aparente, Alckmin superaria Bolsonaro até a votação. Mas talvez não seja assim que a banda toque. A rigor, tudo está em aberto e vale uma máxima antiga: pode acontecer tudo, inclusive nada…
Nonato Guedes