A ex-presidente Dilma Vana Rousseff, natural de Minas Gerais, filha de um imigrante búlgaro casado com uma brasileira, completa hoje 71 anos de idade, sem mandato e sem definição sobre seu futuro político. A presidência da República jamais esteve nos seus planos, nem em sonhos. Um dos seus biógrafos, o jornalista Ricardo Amaral, informa que Dilma, quando criança, queria ser bailarina, porque achava bonito, ou entrar para o corpo de bombeiros, que nem era profissão de menina, mas era bonito também. Acabou sendo a primeira mulher a ocupar a presidência da República do Brasil. Reeleita em 2014, foi, também, a primeira mulher presidente a sofrer impeachment, em 2016 antes dela, em 92, Fernando Collor de Mello foi afastado do cargo acusado com envolvimento em corrupção no chamado esquema PC Farias. Nas eleições deste ano, Dilma candidatou-se ao Senado pelo PT de Minas Gerais e iniciou a corrida liderando todas as pesquisas no final, acabou defenestrada do páreo, com votação abaixo da expectativa.
Dilma tinha acabado de completar 21 anos quando mergulhou na clandestinidade, procurada pela ditadura militar, conta Ricardo Amaral. Escondeu-se no Rio, foi presa e torturada em São Paulo, cumpriu pena de quase três anos no presídio Tiradentes. Só iria recomeçar a vida em 1973, em Porto Alegre, ao lado do segundo marido, o advogado Carlos Araújo (o primeiro foi o jornalista Cláudio Galeno). Fez novos amigos, formou-se em Economia, teve uma filha e continuou fazendo política, militando no PDT de Leonel Brizola. No final de 2002 foi convidada para integrar o governo do primeiro operário eleito presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva, e então a vida recomeçou mais uma vez para ela. Lula cumpre pena de prisão na Polícia Federal em Curitiba acusado de lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Foi ele quem inventou Dilma como candidata, apresentando-a ao país como Mãe do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento. Dilma havia sido secretária de Fazenda da prefeitura de Porto Alegre, secretária de Minas e Energia, presidente da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul, antes de se tornar ministra de Minas e Energia e chefe da Casa Civil do governo Lula. Tinha 61 anos quando entrou no governo petista a nível federal.
Conforme Ricardo Amaral, Lula associava boa parte do sucesso de seu governo, que batia recorde sobre recorde de aprovação nas pesquisas ao trabalho de coordenação da ministra na Casa Civil. Ela assumiu a função em junho de 2005, em plena tormenta do mensalão, depois de cumprir todas as tarefas que o presidente lhe havia confiado nas Minas e Energia. Lula nunca disse diretamente a Dilma que a queria como sucessora. Também não abriu essa discussão com o PT ou com os ministros mais próximos. Foi simplesmente criando fatos até que todos, inclusive Dilma, compreendessem que a decisão estava tomada. Na virada de 2008 para 2009 o projeto era evidente e Dilma decidiu preparar o espírito para os desafios que viriam.
No livro Luiz Inácio Lula da Silva A Verdade Vencerá, o ex-presidente Lula faz críticas pontuais a Dilma, principalmente no que se refere à sua dificuldade de relacionamento com a classe política. Para Lula, isso atrapalhou bastante o projeto de consolidação de uma imagem positiva de Dilma, bem como a aprovação de matérias importantes no Congresso Nacional. Dilma dedicou sua vitória às mulheres brasileiras, dizendo-se confiante em que estava abrindo um precedente que se tornaria rotineiro na vida política nacional. Infelizmente, o impeachment causado pelas denúncias de pedaladas fiscais e outras irregularidades criou uma certa sensação de perda junto às mulheres quanto aos espaços que podem conquistar na cena política nacional. Dilma deixou o poder alimentando a narrativa de que fora vítima de um golpe político-parlamentar e culpou o seu vice, Michel Temer, pela conspiração que, conforme ela, ardia a olhos vistos nos corredores palacianos para o seu impeachment. Temer foi vice de Dilma duas vezes. Está concluindo, agora em dezembro, o segundo mandato que, originalmente, caberia a ela empalmar.
Nonato Guedes