Distribuídos em vários categorias, os evangélicos ainda representam a segunda religião no país, com 22% da população, de acordo com o último Censo do IBGE os católicos são 64%. Outros institutos de pesquisa, como o Datafolha, informam que os evangélicos já representam um terço da sociedade. Eles também representam uma força política decisiva nas eleições majoritárias: consagraram Jair Bolsonaro e não se desapontaram. Reportagem da revista Veja alude a uma pesquisa do Instituto Ideia Big Data apontando que os evangélicos seguem felizes com o presidente mais da metade afirmam que o governo Bolsonaro está atendendo ao que era esperado dele e 22% dizem até que ele supera as expectativas.
Os números surpreendem devido ao fato de que, no conjunto da população, Bolsonaro perdeu popularidade rapidamente. Especialistas entrevistados por Veja avaliam que o fenômeno ocorreu porque o eleitor evangélico foi mais convicto: votou não apenas contra o PT mas a favor da agenda moral de Bolsonaro, considerada extremamente conservadora por setores politizados da população. Declaradamente católico, Bolsonaro é o primeiro presidente eleito com a retórica evangélica pentecostal. Antes dele, houve dois presidentes protestantes Café Filho (presbiteriano) e Ernesto Geisel (luterano), que não chegaram ao poder pelo voto direto e quase não falavam de religião. Diferentemente deles, Bolsonaro cortejava os evangélicos, há tempos, com gestos de forte simbolismo. Em 2016, por exemplo, foi batizado nas águas do Rio Jordão, em Israel, pelo pastor e presidente nacional do PSC, Everaldo, da Assembleia de Deus.
Para José Eustáquio Alves, professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, a estratégia de Bolsonaro foi inteligente. Sendo católico e muito identificado com os evangélicos, ele conseguiu unir os dois polos. Talvez, se fosse só evangélico, não tivesse conseguido tantos votos dos católicos e vice-versa. No segundo turno da eleição presidencial, os católicos dividiram-se quase meio a meio entre os dois candidatos (Bolsonaro e Fernando Haddad, do PT), enquanto quase 70% dos evangélicos foram com Bolsonaro. Em números absolutos, porém, o voto católico ainda contou mais para Bolsonaro foram quase 30 milhões, ante 21,5 milhões de votos evangélicos. Estes vêm crescendo nas últimas décadas e são mais ativos na política do que qualquer outro grupo religioso.
Membros da oposição parecem ter vislumbrado a possibilidade de ocupar espaços, mas sem saber exatamente como aproveitá-la. No mês passado, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, usou uma linguagem marcadamente religiosa para criticar as propostas do ministro Paulo Guedes sobre a reforma da Previdência. Disse que a reforma era um pecado e ainda sugeriu que Jesus foi crucificado porque confrontou o templo, um sistema de dominação e exploração dos pobres. A declaração repercutiu mal entre pentecostais e neopentecostais.
Nonato Guedes, com Veja