A deputada federal Luíza Erundina (PSOL-SP), que é natural da cidade de Uiraúna, na Paraíba, declarou em entrevista à revista Carta Capital que o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) está querendo condenar o educador Paulo Freire a um segundo exílio, trinta anos depois de sua morte. Ela acha que Freire, cujo título de Patrono da Educação no Brasil foi revogado pelo presidente Jair Bolsonaro, ainda incomoda fortemente os políticos conservadores e de direita por causa dos conceitos avançados que imprimiu ao ensino mediante método de alfabetização de adultos, que é referência em diversos países. O método Paulo Freire, conforme a deputada, possibilita uma visão crítica da realidade por parte dos cidadãos, o que não é tolerado por governos anti-democratas ou inimigos declarados da democracia.
O projeto de lei na Câmara dos Deputados considerando Paulo Freire Patrono da Educação no Brasil foi apresentado pela deputada Luíza Erundina. Bolsonaro, numa entrevista a uma jornalista-mirim na semana passada, defendeu a retirada da homenagem a Freire e sugeriu que uma mulher poderia vir a ocupar a honraria, acentuando que a ideia de uma patrona não seria negativa. Na mesma dimensão em que agride personalidades ligadas à esquerda, o presidente Jair Bolsonaro privilegia figuras da direita, como o escritor e astrólogo Olavo de Carvalho, que recebeu uma das mais altas condecorações da República. Carvalho, radicado na Flórida, Estados Unidos, é considerado guru de Bolsonaro e dos seus filhos e tem interferido em mudanças já verificadas no ministério da Educação do atual governo. Ele é inflexível em postagens, nas redes sociais, sobre questões ideológicas.
Quarto filho de uma família de classe média do Recife, Paulo Reglus Neves Freire nasceu a 19 de setembro de 1921 e morreu em maio de 1977, em São Paulo, de infarto do miocárdio, quatro meses antes de completar 76 anos. Em 1989, ele foi nomeado secretário de Educação do município de São Paulo, na gestão de Luíza Erundina, que se elegera prefeita em 1988 pelo Partido dos Trabalhadores, tornando-se a primeira mulher a administrar a maior capital da América Latina. O livro Pedagogia do Oprimido, da Paz e Terra, é a obra mais lida e conhecida do educador no Brasil e no mundo, traduzida para 28 idiomas. Paulo Freire sustentava que a educação, por não ser empreendimento neutro, constitui sempre uma ação cultural para a libertação ou para a dominação. Em Pedagogia da Esperança: um Reencontro com a Pedagogia do Oprimido, Freire retomou as discussões iniciadas em Pedagogia do Oprimido. Em síntese, a filosofia de Paulo Freire desenvolve a noção de escola pública popular e de gestão democrática da escola.
Em contrapartida à decisão de Bolsonaro de banir Paulo Freire da galeria histórica como Patrono da Educação no Brasil, o governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, prestou homenagem ao educador nordestino, outorgando-lhe, post morrtem, a mais alta condecoração daquele Estado. Flávio Dino, que tem sido mencionado como provável candidato a presidente da República em 2022, ressalta que considera a obra de Paulo Freire imortal e modeladora da formação de sucessivas gerações no ensino público brasileiro.
Nonato Guedes