O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está completando os primeiros trinta dias de cadeia, desde que foi condenado a 12 anos de reclusão pelo juiz Sérgio Moro e, posteriormente, pelo Judiciário como instituição, sob acusação de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro, tendo como pano de fundo a oferta de um tríplex no Guarujá, em São Paulo, à sua família, pela construtora OAS e recebimento de propinas pelo líder petista por benefícios concedidos à frente do governo. Ele está envolvido em diversos outros processos, todos contestados pela sua defesa, que tenta desmontar, uma a uma, as acusações e conseguir que Lula responda em liberdade. Recolhido ao prédio da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, Lula é um preso com algumas regalias e recebe visitas constantes de advogados, familiares e interlocutores do Partido dos Trabalhadores.
Fora do presídio, há uma onda de pressões, refletidas em atos públicos e até em manifestações de artistas, pedindo liberdade para Lula, tal como aconteceu esta semana no Teatro Guararapes, em Recife, durante temporada de shows do cantor e compositor Chico Buarque de Holanda, em que plateias, de pé, entoaram refrões por Lula Livre. A cúpula nacional do PT, presidida pela senadora Gleisi Hoffmann, do Paraná, tem capitaneado mobilizações esparsas e um acampamento foi montado em Curitiba, nas imediações da PF, abrigando simpatizantes de Lula e do PT. Já houve incidentes no local, com disparo de tiros e pessoas feridas episódios que ainda estão sob investigação. Lula, que tem aproveitado a prisão para ler livros remetidos por admiradores e intelectuais, mantém, nas conversas, a esperança de que venha a ser posto em liberdade com brevidade. Ele sustenta o discurso de que é vítima de perseguição política. O mesmo tom foi adotado pela ex-presidente Dilma Rousseff em entrevistas a jornais e emissoras de rádio e televisão do exterior, bem como em palestras e conferências feitas em outros países.
O grande foco de discórdia no âmbito do Partido dos Trabalhadores diz respeito à hipótese de manutenção ou não de uma virtual candidatura de Lula a presidente da República no pleito de outubro próximo. Juridicamente, a hipótese é tida como remota, já que a condenação implica na suspensão de direitos políticos do ex-presidente da República, mas especialistas em Direito da banca de defesa de Lula e até mesmo juristas não vinculados ao PT falam em brechas legais que facilitariam a própria candidatura. Até então, nas pesquisas feitas antes da prisão, Lula vinha liderando as intenções de voto para retornar ao Palácio do Planalto, que ocupou por dois mandatos, tendo, ainda, feito a sucessora, Dilma Rousseff. A palavra de ordem de algumas correntes do PT é descartar qualquer alternativa ou Plano B para substituição de Lula como candidato. Isto faz parte de uma estratégia de pressão subliminar para a liberação, pela Justiça Eleitoral, da candidatura. Mas, nos bastidores, expoentes do petismo avaliam outras opções, inclusive o apoio a candidato de outro partido que tenha afinidade com o PT.
Nesse contexto, a senadora Gleisi Hoffmann já descartou um eventual apoio a Ciro Gomes, ex-ministro da Integração Nacional e pré-candidato a presidente pelo PDT, que chegou a oferecer a vice a um nome do Partido dos Trabalhadores. Ciro é tido como inconfiável e já formulou inúmeras críticas tanto a Lula quanto ao PT. Ele não passa pelo crivo do PT nem com reza brava, chegou a afiançar a senadora Gleisi Hoffmann. Numa conversa com petistas no presídio em Curitiba, Lula manifestou desesperança quanto à possibilidade de vir a ser candidato e exortou a cúpula e a militância a examinarem outras opções, de preferência um candidato nordestino. Dentro do PT, o nordestino mais em evidência é o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, que, no entanto, não tem projeção nacional. Há quem sustente que o candidato in pectoris de Lula seria o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que em 2016 não conseguiu ser reeleito para outro mandato. Em meio à indefinição, outros pré-candidatos tentam ganhar espaços e atrair fatias do eleitorado lulista até mesmo Geraldo Alckmin, do PSDB, e Jair Bolsonaro, que é tido como simpatizante da extrema-direita.
Nonato Guedes