Hoje é o dia propriamente dito da celebração do centenário de nascimento do cajazeirense ilustre Ivan Bichara Sobreira, que governou a Paraíba em conjuntura excepcional, escolhido por nomeação do regime militar, embora tivesse trajetória pontuada no voto, como deputado estadual e federal. As homenagens, que partiram de Brasília e ecoam em Guarabira e Cajazeiras, resgatam e realçam a figura de um político ético, numa situação temerária como a que vivemos atualmente, com homens públicos em desgraça, pilhados em escândalos de corrupção e outros atos escandalosos, à custa da dilapidação do erário e de valores éticos que deveriam pautar o múnus que é exercido, ora no Planalto, ora nas Casas Legislativas, de Brasília e de todo o país.
A circunstância de ter sido escolhido governador por via indireta não tisna a biografia do também escritor Ivan Bichara Sobreira. Ele tinha compromissos declarados com o interesse público, não era mero instrumento de facções políticas. Tanto assim que pagou um alto preço em 1978 quando, já concluindo a passagem pela administração estadual, aventurou-se a concorrer a uma vaga de senador pelo voto e sentiu-se traído dentro do seu próprio partido por forças que comandaram uma dissidência em apoio a Humberto Lucena, vitorioso, candidato do partido adversário. Ivan há de ter cometido erros táticos, estratégicos, em termos políticos; de ser omisso ou ausente em metas administrativas que lhe cabia empalmar, mas jamais pode ser inquinado como um político antiético ou venal. Não era integrante daquela facção que se alimenta do cambalacho, da pressão fisiológica, da chantagem repulsiva para cevar vantagens pessoais.
A integridade de Ivan Bichara Sobreira poupou-o de fazer par na galeria dos políticos que deslustram o nosso cenário. Vindo de Cajazeiras, ele aportou aqui ciceroneado pelo padre Carlos Coelho, que dirigia o jornal católico A Imprensa. Em pouco tempo transferiu-se para Recife, onde foi aluno da tradicional Faculdade de Direito e colhido pelos acontecimentos políticos de 1945, que agitaram a Nação como um todo, perfilando na companhia de uma figura emblemática Demócrito de Souza Filho. No fim do ano, ao terminar o curso, coube a Ivan a distinção de pronunciar o discurso junto ao túmulo do acadêmico mártir, na romaria que todos os concluintes empreenderam ao cemitério de Santo Amaro.A visão e o engajamento, de algum modo, nesses acontecimentos turbulentos, constituíram, por assim dizer, estágio probatório da iniciação política de Ivan Bichara Sobreira. Ele esteve no epicentro de fatos marcantes de uma quadra da conjuntura brasileira.
A sua administração, tempos mais tarde, como governador da Paraíba, foi operosa dentro das limitações que o Estado enfrentava e com as quais ainda convive, prisioneiro da desigualdade socioeconômico e da adversidade das condições climáticas que afligem o Nordeste como um todo. Ivan Bichara, repito, dentro dessas limitações, promoveu um esforço inaudito para manter o equilíbrio de contas ou finanças sem prejuízo do calendário de obras e de investimentos. Era lento o crescimento da economia paraibana, o que levou o Estado a perder posição no contexto das demais unidades da Federação. É sob ângulo que hoje, mais a vagar, com a serenidade das análises políticas e sem a paixão dos conflitos de ocasião, deve ser feita a exegese da gestão Ivan Bichara Sobreira. Observei, no seu perfil no meu livro A Fala do Poder,que a postura equilibrada de Ivan foi confundida pelos adversários com falta de pulso ou autoridade. Essa turma foi surpreendida com a visão administrativa decorrente do conhecimento dos problemas da terra, que ele aprofundou. Não chegou despreparado para governar eis a realidade.
Ivan Bichara Sobreira não tinha apego ao poder nem fazia política baseada no ódio, na retaliação. Tinha grandeza. E no seu portfólio pessoal, exibia o trunfo da honestidade. Poucos governantes ou políticos, na malfadada conjuntura que o Brasil hoje experimenta, podem ostentar o que em Ivan Bichara era um galardão,de que se envaidece a Paraíba, pelo caráter exemplar da postura.
Nonato Guedes
