O deputado estadual Jeová Campos (PSB) considera bastante difícil a eliminação, na campanha do próximo ano, do chamado “caixa dois”, também conhecido como dinheiro não contabilizado ou oficialmente não declarado à Justiça Eleitoral por candidatos a cargos eletivos, que tem sido alvo de controvérsias e de permanente vigilância da Justiça Eleitoral, provocando indiciamento e prisão de líderes de vários partidos. “A campanha de 2018, infelizmente, terá a mesma cara e os mesmos problemas das anteriores”, prognosticou Jeová num depoimento ao “Correio da Paraíba”, expressando ceticismo diante de mudanças substanciais na metodologia da disputa no país.
Jeová confessou ter gasto, na campanha de 2014, para se eleger à Assembleia, cerca de R$ 180.908,81 e afirma que mesmo com a proibição de financiamento de campanhas via empresas privadas, aprovada este ano, não há como não beneficiar o eleitor. “A verdade é que sem recurso financeiro não há como conquistar o voto do eleitor, e isto torna difícil a diminuição dos custos de campanha. Mudaram as regras mas é preciso mudar a cabeça do eleitor, principalmente daquele que pede dinheiro aos políticos para pagar contas de água e luz em troca de votos”, acrescentou Jeová, pontuando mais: “Eu só posso afirmar que não vai ter apoio financeiro com dinheiro escondido nas malas depois que eu ver”.
Em sua edição impressa, o “Correio da Paraíba” dedicou uma página, no domingo, ao tema do caixa dois, apontando-o como ameaça para 2018 e entrevistando parlamentares e cientistas políticos. De acordo com as informações colhidas, a limitação imposta pela reforma política obrigará os candidatos a montarem estratégias para gastos menores, o que não elimina o recurso ao “caixa dois”. A expressão “dinheiro não contabilizado” ficou popularizada no Brasil ao ser usada pela defesa de Delúbio Soares, ex-tesoureiro nacional do Partido dos Trabalhadores, quando do estouro do escândalo do mensalão, ocorrido no primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A partir das revelações de Delúbio e de outros dirigentes partidários, além da comprovação de “caixa dois” em investigações policiais autorizadas pela Justiça, foi reforçado o coro para a adoção do financiamento público de campanha já na eleição do próximo ano.
No entanto, parlamentares que vão disputar a reeleição, a exemplo de Jeová, mantêm um pé atrás quanto à influência do caixa dois no pleito vindouro. O deputado João Gonçalves, do PDT, garante que seu estilo é diferenciado e que não depende de vultuosas somas para se eleger. “Mas entendo que a restrição vai piorar a situação de muitos candidatos”, enfatiza. Ele sugere que deve haver uma fiscalização maior em relação à utilização de caixa dois e que a população tem que denunciar a compra de votos. “Somente assim os políticos terão a consciência de que não precisam gastar tanto dinheiro”, emendou. O cientista político Fábio Machado admite que há expectativa de redução da circulação do dinheiro, mas alerta: “A gente pode, sim, se surpreender com políticos corruptos nas próximas eleições. O financiamento de campanha ainda gera dúvidas entre os eleitores do país”. A seu ver, as restrições deverão tornar o trabalho mais duro e cauteloso. “Mas as novas regras não tornarão as eleições perfeitas”, concluiu Fábio.
Nonato Guedes