Embora, teoricamente, seja um ritual de praxe, o aceno conciliador do governador diplomado João Azevedo (PSB) aos seus opositores teve um componente emblemático: ele procurou enfatizar que todos os gestores estão no mesmo barco, aludindo à conjuntura nacional de crise que impõe a unidade e as parcerias. Buscou lembrar, à guisa de alerta, que a eleição é página virada. Sentará à mesa para dialogar com quem quiser dialogar e isto vale, sobretudo, para o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), que tem se mostrado arreliado a uma aproximação, inclusive, fazendo insinuações de que o sucessor de Ricardo Coutinho precisa provar que terá autonomia.
O receio de Luciano é o de que o atual governador Coutinho tencione monitorar à distância os passos do sucessor, diante da afinidade cimentada entre eles e da gratidão desmesurada de Azevedo para com seu padrinho político, decisivo com vistas à vitória no primeiro turno. Entre uma suposta pretensão de Ricardo de subordinar João às suas coordenadas e uma postura de submissão do governador diplomado, há uma certa distância. Já foi dito e repetido que a administração que empalmará o poder em janeiro é de continuidade na filosofia das políticas públicas em andamento e dos projetos que viabilizaram transformação de aspectos da realidade paraibana. Isto não significa que a gestão João Azevedo venha a ser papel-carbono dos governos Ricardo I e II. Nesse ponto, o prefeito de João Pessoa cometeu uma leviandade e um desrespeito gratuito a Azevedo, ao qualificá-lo como marionete de Ricardo Coutinho.
Está certo que a primeira fornada do secretariado teve, de forma avassaladora, as digitais do ricardismo, obcecado pela continuidade de projetos que o consagraram, mas de tal forma obliterado que terá esquecido um mandamento curial o de que foi João, não ele, quem passou pelo teste das urnas. E com louvor, diga-se de passagem. A sintonia fina entre os dois gestores é indiscutível e não haveria de ser diferente, uma vez que foram cúmplices de programas e metas de desenvolvimento. Em relação ao governo de Jair Bolsonaro, a expectativa do gestor paraibano diplomado é de que a Paraíba não seja penalizada por causa de posturas políticas de seus governantes que se alinharam ao candidato Fernando Haddad, do PT, ou ao pedetista Ciro Gomes.
Ricardo Coutinho terá papel fundamental na gestão de Azevedo, mesmo sem ocupar cargo nenhum. Poderá ser extremamente útil como conselheiro político do sucessor, quebrando arestas por parte de deputados estaduais e federais. A profícua vivência parlamentar na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal de João Pessoa credencia Coutinho a esse papel, além do que, pessoalmente, ele é um vocacionado para a política até mesmo apaixonado, como deixou escapar em confissões nestes últimos dias de poder de mando no Estado. Supõe-se, pela inteligência privilegiada de Ricardo, que ele tem noção exata do seu quadrado num governo amigo como o de João Azevedo. Não deverá desejar para o herdeiro administrativo o que não permitiu no seu ciclo ou na sua Era a intervenção descabida, a influência insidiosa, as diferentes formas de ingerência que podem atrapalhar muito mais do que ajudar. Tudo é uma incógnita, mas é difícil imaginar que a Paraíba venha a sofrer daqui para frente.
Nonato Guedes