O apresentador da Rede Globo Luciano Huk, que tenta se viabilizar como candidato a presidente da República nas eleições de 2018, segue as pegadas do apresentador e dono do SBT, Sílvio Santos, que há 28 anos ensaiou uma disputa ao Planalto, tendo como vice o ex-senador paraibano Marcondes Gadelha (atualmente no PSC). Em 1989 transcorreu a primeira eleição direta a presidente da República depois do golpe militar instaurado em 1964. Apresentaram-se, no páreo, nomes carimbados da política brasileira como Ulysses Guimarães, Mário Covas e Leonel Brizola. Entre as novidades, destacavam-se Fernando Collor de Melo, ex-governador de Alagoas, Luiz Inácio Lula da Silva, líder metalúrgico do ABC paulista e fundador do PT, Enéas Carneiro, um médico desconhecido que concorreu pelo Prona, legenda igualmente ignorada pela maioria dos eleitores e que tinha apenas 30 segundos no Guia Eleitoral na TV para pedir votos. A última novidade foi Sílvio Santos, que “bagunçou” a disputa presidencial, despertou reações dos concorrentes e teve a candidatura barrada pelo TSE por irregularidades no registro da chapa e na organização do PMB, legenda de aluguel pela qual pretendia concorrer tendo Gadelha a tira-colo. Marcondes conhecia Sílvio do “Show do Milhão”, do qual participou, abocanhando pelo menos R$ 500 mil. Uma parte do dinheiro premiado foi destinado a instituições de caridade.
Foi no “Show de Calouros” de 22 de outubro de 89 que Sílvio Santos informou ao público ter pretensões de ingressar na política, disputando, de largada, a presidência da República. Ele já havia conversado a respeito com sua mulher, Iris Abravanel, que o apoiou na empreitada. Inicialmente, SS desejava compor-se com Guilherme Afif Domingos, registrado como candidato pelo PL e que “fechava” suas intervenções na TV com o brado: “Fé no Brasil!”. Foi o PFL, porém, que avançou nos entendimentos para tornar viável a candidatura do “homem do baú”. Silvio participou de reuniões com Jorge Bornhausen, Marco Maciel e Marcondes Gadelha, entre outros expoentes do PFL (hoje DEM) e condicionou sua candidatura à retirada do páreo do vice-presidente da República, Aureliano Chaves, que não desistiu. Depois de idas e voltas, Sílvio acabou fechando com o nanico PMB, Partido Municipalista Brasileiro, dominado por evangélicos e dirigido por Armando Corrêa.
Sílvio chegou a participar de algumas inserções no Guia Eleitoral e apareceu, em pesquisas de opinião pública, com índices favoráveis e ampla margem de crescimento na disputa, ameaçando principalmente Fernando Collor, que se valia da fama de “caçador de marajás” quando governador de Alagoas para conquistar votos dos indecisos. “Marajás” era a denominação de superfuncionários do governo alagoano, que faziam jus a altíssimos salários – e foi com eles que Collor comprou brigas antológicas, acompanhadas pelo noticiário nacional. A entrada de Sílvio configurava um risco para as pretensões de Collor e de outros bem votados. E partiu deles a contestação do registro da candidatura de SS pelo PMB, baseada no registro de irregularidades gritantes. No dia nove de novembro de 89, a fatura foi liquidada com a impugnação da chapa Silvio Santos-Marcondes Gadelha.
Foi um verdadeiro alívio nas hostes políticas em outros partidos, cujos expoentes qualificavam Sílvio Santos como um “aventureiro” que cumpria o papel de tumultuar o processo político-eleitoral, sem falar na adjetivação de “camelô”, feita em tom pejorativo para queimar o apresentador de programas de auditório e dono do SBT. Sílvio, na verdade, estava picado pela mosca azul da política e tornou-se místico depois de enfrentar um problema de saúde que afetou suas cordas vocais. Em meio a suspense e a pitacos oriundos das mais diferentes direções, o “homem do Baú” preferiu jogar a toalha. Sílvio ainda foi cortejado para disputar a prefeitura ou o governo de São Paulo. Mas, decididamente, não tinha credenciais para a convivência com o jogo político. “Pela ingenuidade e pureza de intenções, Sílvio seria engolido facilmente por cobras criadas da política brasileira que manejavam os cordéis”, explicou Marcondes Gadelha a este repórter, numa entrevista em Brasília após malograda a chapa que reunia os dois. Em relação a Luciano Huk, ainda tem tempo para avaliar se ingressa ou não na corrida presidencial no próximo ano. Uma diferença é que ele não está bem posicionado nas primeiras pesquisas, diferentemente de Sílvio, que largou como favorito nas preliminares do jogo eleitoral.
Nonato Guedes, com UOL