No livro Luiz Inácio Lula da Silva A Verdade Vencerá, em que dá um depoimento a jornalistas e historiadores como Ivana Jinkings, Maria Inês Nassif, Gilberto Maringoni e Juca Kfouri, em março deste ano, antes da sua prisão em Curitiba, que se deu em abril, o ex-presidente foi indagado sobre as causas de querer voltar a ser novamente candidato ao Palácio do Planalto. E respondeu, de forma categórica:
– Sou obrigado a deixar a minha humildade de lado e dizer uma coisa com muita seriedade e serenidade. É porque, neste instante da história do país, pela ausência de gente melhor, é preciso ter alguém com credibilidade na sociedade. Alguém em quem a sociedade confie, alguém que recupere a credibilidade internacional e que entenda de povo. Alguém que fale menos em economia e fale mais da alma desse povo. Então, qualquer cara que vier a governar este país tem que saber que a palavra mágica é, primeiro, credibilidade do governo. Segundo, a economia tem que voltar a crescer porque tem que gerar emprego para fazer o PIB crescer e para diminuir a dívida pública. O país está precisando disso, de geração de emprego, de aumento da renda do povo e de pôr dinheiro para circular aqui dentro. Do jeito que as pessoas estão, todo dia faz um aperto, todo dia corta alguma coisa. Aí vem o Temer (presidente Michel Temer, do MDB) e dá 30, 40 bilhões de reais para deputados, enquanto corta os benefícios do povo. Agora querem mudar o Código Florestal para tentar acabar com a pequena propriedade no campo. Na verdade, o que nós precisamos é soltar esse país das amarras, pra ele crescer.
Lula, na entrevista, passou, então, a teorizar sobre o que faria na hipótese de retornar, pelo voto, à presidência da República. Frisou que colocaria 100 bilhões de reais da reserva para fazer o país voltar a crescer. E por quê? Só pode fazer isso quem acreditar no que está fazendo. Se eu tenho confiança no que estou fazendo, eu vou dizer ao povo brasileiro: Olha, não dá para continuar assim. O BNDES vai voltar a financiar o crescimento econômico deste país, a Caixa Econômica vai voltar a financiar habitação, o Banco do Brasil vai voltar a financiar o pequeno produtor e este país vai voltar a crescer. Vai aumentar a dívida? Vai. Mas nós vamos pagar. E vamos pagar quando o PIB crescer. Alguém tem coragem de dizer essas coisas em alto e bom som? Eu tenho credibilidade para isso. Então, até lamento dizer, mas acho que sou a pessoa com mais credibilidade para fazer isso olhando na cara de uma pessoa de 80 anos e na de uma de 20 anos. É por isso que eu quero voltar. Estou convencido de que posso ajudar a resolver o problema do país. Assim como estou convencido de que a verdade voltará.
No livro, editado pela BoiTempo, Lula assevera que os seus governos ofereceram um padrão de vida para o povo que muitas revoluções armadas não conseguiram, e isto se verificou em apenas oito anos. Sempre fui e serei presidente de todos. Mas os que mais precisarem terão a mão do governo. E quem precisa são os trabalhadores, adiantou. Nessa entrevista, Lula mostrou-se cético, à certa altura, quanto ao poder de mobilização dos segmentos sociais. Assinalou que a mobilização não resolve tudo, citando que uma das mais importantes, nesse campo, verificada no país, foi a das Diretas Já. Fomos para o Congresso Nacional e acabamos perdendo as eleições diretas. E não aconteceu nada. A gente ficou a ver navios e esperou o Colégio Eleitoral em 1985. Não há ninguém fazendo mobilização contra os processos que estão movendo contra mim. As pessoas estão na expectativa de que as coisas funcionem corretamente, de que as instituições funcionem, tomem decisões. Se acontecer alguma coisa considerada anormal, aí vamos ver como é que fica a sociedade, expôs Lula, negando que tivesse feito concessões políticas demais ao longo dos dois governos que empalmou. Fiz as concessões que o momento exigia, garantiu o ex-presidente.
Nonato Guedes