Nas eleições municipais de 2000, o PT paraibano fez a sua mais polêmica aliança eleitoral: coligou-se com o PMDB em Campina Grande, indicando uma filiada, Cozete Barbosa, com atuação no sindicalismo, para vice-prefeita na chapa encabeçada por Cássio Cunha Lima, que era candidato à reeleição e adversário histórico dos petistas na cidade e no Estado. A briga entre o PT de Campina e o grupo Cunha Lima, que controlava a administração pública na cidade desde 1983, foi uma constante. Em meados de 1989, o presidente do PT local, Jairo Oliveira, foi condenado a sete meses de prisão, transformada em sursis por dois anos, no processo movido contra ele pelo ex-senador Ivandro Cunha Lima, por crime de calúnia. Jairo havia acusado Ivandro de ter eletrificado sua fazenda com recursos da Celb, companhia que pertencia à prefeitura e foi, depois, privatizada. Oliveira não conseguiu provar as acusações na Justiça e foi condenado, tendo a solidariedade da Executiva estadual do PT, que denunciou atos de prepotência do clã Cunha Lima.
As rusgas políticas não impediram, contudo, a aliança entre Cássio e o PT, que resultou vitoriosa. Na época, o presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que não via incoerência na aliança firmada em Campina Grande, pois o PMDB não estava fora do arco de alianças do PT e que Cássio não rompera com o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) eminentemente em função da política local. A coligação feita em Campina teve repercussão nacional na época, havia divisões latentes no PT acerca da política de alianças. Cássio chegou a assinar um protocolo de intenções para ser cumprido num provável governo com Cozete, comprometendo-se a combater o neoliberalismo através de políticas públicas como o Orçamento Participativo. Mesmo após a formalização da aliança, apoiada pela maioria do PT, os conflitos continuaram durante a campanha entre candidatos petistas a vereador, contrários à referida aliança. A chapa Cássio-Cozete foi vitoriosa, mas nas eleições proporcionais o PT teve desempenho eleitoral inferior a 1996, quando a legenda petista superou 15 mil votos.
O episódio da polêmica aliança em Campina Grande está narrado em detalhes no livro O Partido dos Trabalhadores e a Política na Paraíba, do professor universitário Paulo Giovani Antonino Nunes. Ele afirma, a propósito: Realmente, uma coligação entre o PT de Campina Grande e o grupo Cunha Lima não poderia deixar de ser polêmica, devido à histórica oposição que o partido fez a esse grupo (…) no entanto, a decisão não poderia ser acusada de antidemocrática, pois foi aprovada pela grande maioria dos filiados do PT da cidade, que participaram de plebiscito. Atualmente senador pelo PSDB e candidato à reeleição, Cássio Cunha Lima é um dos críticos ferrenhos do Partido dos Trabalhadores na tribuna do Congresso.
Houve outros incidentes opondo o PT paraibano ao clã Cunha Lima, como denúncias do então deputado federal Avenzoar Arruda de que Cássio, como superintendente da Sudene, favorecera empresas da família, com incentivos do Finor. Um dado curioso é que a própria Cozete, quando presidia o Sintab, sindicato de servidores municipais da região de Campina, era dura com Cássio, tendo afirmado: Um prefeito tão jovem, que discursava pela modernidade, tem a mesma prática retrógrada do prefeito de Queimadas, José Pereira, que é e age como um vaqueiro. Posteriormente, como governador da Paraíba, Cássio chegou a ter relação amistosa com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o tratava como Cassinho e o recebeu, certa feita, em Brasília, para conversa informal regada a bebidas. O intermediário da conversa foi Júlio Rafael, militante do PT na Paraíba e amigo de Cássio, ex-superintendente do Sebrae, já falecido.
As primeiras conversações entre o PT campinense e os Cunha Lima para uma aliança no âmbito municipal aconteceram em 1966, mas naquela oportunidade o pacto não se concretizou. Perante a História, Cássio quebrou um tabu ao promover a aliança com o Partido dos Trabalhadores, que nos primórdios, na Paraíba, vetara apoio a nomes como Marcondes Gadelha, Antônio Mariz e Lúcia Braga, que foram candidatos ao governo estadual em pleitos distintos.
Nonato Guedes