O que é que o Nordeste tem? – indagam analistas políticos baseados no Sul, contemplando o périplo de “presidenciáveis” por esta região. Quem mais sobressai no contexto é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que idealizou uma “caravana” por esta região a pretexto de se inteirar dos problemas do seu povo, mas, na verdade, está plantando uma semente para a disputa à presidência da República em 2018, onde espera despontar como favorito, a um passo da vitória. Falta a Lula a garantia de que será elegível, ou seja, que reverterá a punição aplicada pelo juiz Sérgio Moro que o afastou temporariamente da disputa a cargos eletivos. Mas os seus próprios adversários querem enfrentá-lo nas urnas, não por interesse em fazer história mas por acreditar que Lula está vulnerável com os escândalos rondando o PT, ele mesmo atolado em processos e a ex-presidente Dilma Rousseff nocauteada pelo impeachment. É exercício de “achismo” nas atuais condições de temperatura e pressão. Não faz mal aguardar os acontecimentos.
No extremo oposto do espectro político proliferam os “anti-Lula”. Ou aspirantes a esse papel, como o prefeito de São Paulo, João Doria, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o deputado Jair Bolsonaro, o ex-ministro Ciro Gomes, a ex-senadora Marina Silva. Somente o presidente Michel Temer, que teria direito à reeleição por estar aboletado na cadeira do poder, não se habilita ou não demonstra interesse/ambição em postular um mandato a céu aberto. Pelo menos até agora, quando a sua popularidade está destroçada e o governo que ele empalma bate recordes históricos de rejeição. Temer, que é cerebral, talvez confia numa reversão de conjunturas. A conferir, por óbvio.
Um colunista político da mídia sulista aventou a hipótese de que presidenciáveis estejam cortejando o eleitorado das margens do rio São Francisco, espalhado por vários Estados nordestinos, porque supõem que é uma parcela desinformada e despolitizada, que não saberia votar corretamente. Trata-se de análise absolutamente equivocada, além de embutir uma forte carga de preconceito, na esteira de certas orquestrações ensaiadas contra o povo nordestino por expoentes das elites falidas do Sul e Centro-Sul. O eleitorado nordestino faz escolhas erradas na mesma proporção dos deslizes cometidos por eleitores do Rio, São Paulo, Paraná ou Rio Grande do Sul. Não há, nunca houve, superioridade nesse tipo de competição. Talvez a atração que o Nordeste exerça sobre candidatos presumíveis esteja na densidade numérica do contingente que vota – e que é expressiva e importante para definir carreiras políticas. Ainda que a região seja continuamente marginalizada de decisões relevantes e de investimentos estruturantes por parte de governos, ela resiste à adversidade e às desigualdades. E incomoda – muito – as elites empresariais e os expoentes políticos.
Os agentes políticos teoricamente mais informados sobre a conjuntura que prevalece no plano nacional poderiam ter uma atuação pedagógica, de caráter de conscientização, da parcela nordestina votante. Ainda que esse trabalho não seja feito, dê-se ao povo a liberdade de escolha. Mesmo errando, o povo estará se expressando e sendo acatado na definição de políticas gerais que abrangem o País. Esta é a vantagem da democracia, realçada pelo debate, pelo confronto entre postulantes à suprema magistratura da Nação. E convém lembrar, ainda, que o desconfiômetro do eleitorado nordestino está mais conectado do que imagina a vã filosofia. O grau de informação ou a carga de subsídios repassados ao cidadão comum é elemento preponderante na correlação de forças entre legendas e candidatos que vão se bater na caça aos votos. A chamada conscientização do eleitorado dá-se por geração espontânea, na base do conhecimento do que está sendo prometido e do que está sendo feito, em paralelo com o noticiário sobre as posturas dos representantes políticos no que toca à ética e ao uso dos recursos públicos.
O Nordeste passou a ser prioridade, pelo menos em campanhas presidenciais. Este é um sinal extremamente positivo para a região, que pode se tornar profundamente exigente na elaboração das suas reivindicações. O assédio dos presidenciáveis ao que antes era chamado de bolsões do atraso quebra paradigmas, subverte lógicas apriorísticas construídas em castelos de areia. O povo cansou de ficar apenas vendo a banda passar. Quer entrar na banda e tocar os instrumentos que podem fazer a redenção desta região e encantar as noites de luar nas franjas do “Velho Chico”. Este é o diagnóstico correto de quem trabalha com a verdade histórica.
Nonato Guedes