Houve uma fase, num dos governos de Tarcísio Burity, em que proliferavam na mídia paraibana os “Super-Secretários”, como os jornalistas os apelidavam. Tínhamos o “Super-G”, alusão a Geraldo Medeiros, que era uma espécie de coringa na área técnica-financeira do Estado, ditando regras sobre como fazer para gerir a coisa pública em conjuntura atípica, equivale dizer, em meio à adversidade. Havia um outro “Super-G”, referência a Geraldo Navarro, cunhado do governador e idealizador, na secretaria de Segurança Pública, da Operação Manzuá, que cumpriu papel essencial no combate à criminalidade nas divisas escancaradas do Estado.
Em certa medida, o tratamento de “Super” conferido por expoentes da mídia, entre os quais este articulista, era uma forma subliminar de atestar o cacife ou grau de influência de secretários e assessores no círculo de poder de Burity. Tivemos, também, o Super-Solon, alusão ao jurista e estimado amigo Solon Benevides, cérebro privilegiado numa época em que talentos, e não mediocridades, eram valorizados na Paraíba. Projetou-se, ainda, a figura do “Super porta-voz”, refletida no publicitário Carlos Roberto de Oliveira, mais tarde meu editor literário, o homem que colocou Burity nas páginas amarelas da revista “Veja” pregando eleições diretas e Constituinte. Burity fora originado do ventre da eleição indireta, escolhido como “tertius” pelo Planalto em meio à queda-de-braço entre Antônio Mariz e Milton Cabral.
Acima de todos eles, havia o Super-Burity, a respeito do qual cunhei expressão usada como título de ensaio que escrevi para o livro sobre política & poder na Paraíba: “Um homem que, segundo se diz, tem linha direta com o Céu”. Era um modo de informar que Burity tinha poder. E mais do que isso: sabia exercer o poder na sua plenitude. Foi dentro desse figurino que ele se abalou a ir ao comando geral da Polícia Militar da Paraíba destituir o comandante, um militar reservista de alta patente e de certa influência nos estertores da longa noite das trevas, tal como denominado o golpe de 64. Esse comandante da PM valia-se do cargo para desobedecer ordens de Burity e, portanto, conspirar contra a autoridade dele. Se havia uma coisa em torno da qual Burity era cioso, chamava-se “autoridade”. E foi a ela que recorreu para exonerar o militar insubordinado e transmitir-me a notícia em primeira mão, num sábado, em telefonema expedido da Granja Santana.
Faço essa volta olímpica em termos de digressão para desembarcar na conjuntura que vigora hoje na Paraíba e que projeta no poder institucional a figura emblemática do governador Ricardo Coutinho. Ele fez trajetória política cevada nas urnas, disputando mandatos de vereador na Capital a governador do Estado, eleito duas vezes. Pôs-se contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff e ainda hoje, administrando um Estado carente de recursos, adota linha indepenente ou autonomista em relação ao poder central enfeixado por Michel Temer. Nem por isso deixa de realizar obras ou promover investimentos. Fez reserva de caixa preparando-se para tempos difíceis para um Estado dependente umbilicalmente de receitas federais. Ricardo é aprovado por segmentos expressivos da população e está a braços com o desafio de eleger seu sucessor. O desafio consiste em quebrar a escrita de que é difícil transferir votos. O governador viveu essa experiência na pele, quando em duas eleições a prefeito de João Pessoa não logrou repassar votos por osmose para duas candidatas que ele tirou do bolso do colete.
Parte, agora, para uma empreitada mais arriscada: eleger o sucessor, aquele que vai sentar na cadeira que ele ocupa e que tende a exercer até o último dia de mandato, se levarmos a sério o seu prognóstico nesse sentido. A dificuldade imposta a Coutinho está na escolha do nome para sucedê-lo. Ele ungiu por antecipação a pré-candidatura de João Azevedo, técnico competentíssimo mas nunca testado no julgamento das urnas, já que não concorreu a qualquer cargo eletivo. A premissa do governador para apostar fichas em Azevedo parece correta à primeira vista: o candidato ungido seria favorecido pelo desencanto do eleitor com políticos tradicionais. É a aposta no novo, epidemia que acomete do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso ao gestor socialista paraibano. Evidente que o tira-teima fica lá para adiante, para o decorrer da campanha propriamente dita, para as oscilações de tendências que dirão se haverá ou não segundo turno. Todos pagam para ver o desfecho da aposta de Ricardo.
Será a sua definitiva chance de provar que é Super!
Por Nonato Guedes