Há 42 anos, as cortinas dos teatros no Brasil eram fechadas como um preito de reverência pela morte de Paulo Pontes, paraibano de Campina Grande, que se projetou no meio artístico e cultural do sul do país como uma das nossas melhores expressões. Em sua trajetória, Vicente de Paulo de Holanda Pontes foi precoce em praticamente tudo. No dizer de um grande amigo e admirador seu, que nos deu adeus este ano, Severino Ramos, Paulo passou a figurar entre os paraibanos sobre os quais mais se escreveu neste país além dele, somente José Américo de Almeida, Augusto dos Anjos e José Lins do Rego tiveram suas obras realçadas pelas maiores expressões do jornalismo e da crítica especializada. Paulo Pontes morreu aos 36 anos de idade, no Rio de Janeiro. Mas foi como se tivesse sido uma existência quase centenária, tal a dimensão de sua obra, anotou Biu Ramos no ensaio intitulado Um Homem do seu Tempo.
É nome de teatro em João Pessoa, na Fundação Espaço Cultural. Bibi Ferreira, que foi casada com ele, disse: O maior presente que a Paraíba me deu foi ter colocado o nome de Paulo Pontes no Teatro do Espaço Cultural. Sinto uma emoção indescritível quando venho aqui. Só em ver seu nome, estou me sentindo como quem está esperando uma pessoa que não vai retornar nunca mais. O Paulo está muito presente aqui. Biu Ramos conheceu Paulo Pontes nos tempos da rádio Tabajara no começo da década de 60. Ainda de acordo com Ramos, a simples presença de Paulo, em ambientes literários, despertava um halo de magnetismo entre os presentes. Franzino, de pernas arqueadas, rosto fino e alongado, orelhas proeminentes, portando óculos pesados, de lentes grossas que denunciavam uma acentuada miopia, Paulo Pontes impunha-se pelo seu talento e, ao mesmo tempo, pela simplicidade com que doutrinava plateias.
É de Biu Ramos, ainda, a narrativa: Paulo Pontes lembrava um Dom Quixote desarmado, que logo se agigantava e se impunha no meio da praça, mercê da gesticulação que parecia uma mímica perfeita de oratória, como se estivesse recitando um monólogo de Shakespeare, amarrando à segurança do gesto a firmeza da palavra. Saído da Paraíba, ganhou visibilidade no Rio de Janeiro, entre luminares como Chico Buarque de Holanda e outros expoentes do Opinião, numa conjuntura de efervescência que intentava desafiar a longa noite das trevas que se abatera sobre o Brasil. Viveu pouco na Paraíba exatamente pela sua inquietação intelectual, ousadia e alcance de sua inteligência, que transpunham os limites da província. Fez rádio, teatro, jornal e, já no Rio, em apenas dez anos, sua palavra soava candente, ardorosa, como um grito de forte repercussão.
O carisma impressionante de Paulo Pontes levou Severino Ramos a comparar que ele teria sido um grande condutor de massas se tivesse dirigido o seu inigualável talento para a atividade política-partidária. Na Paraíba, Paulo Pontes chegou a filiar-se ao Partido Socialista Brasileiro para disputar um mandato de deputado federal, mas esse desideratum foi frustrado por um elenco de circunstâncias. Paulo ficou no Rio, alcançou a glória, mas nunca desvinculou-se de suas raízes paraibanas, escreveu Biu. A peça Paraí-bê-a-bá é uma homenagem à Paraíba. Além de Biu Ramos, sobre Paulo me falaram, extasiados, Alarico Correia Neto, Martinho Moreira Franco e outros. É de Paulo esta assertiva: Procurei em nossa literatura, em nossa música popular, o que existia de mais expressivo, para formular os problemas do homem paraibano. Isto resume a ópera.
Nonato Guedes