Aliado histórico do Partido dos Trabalhadores desde a redemocratização, em 1985, o Partido Comunista do Brasil, PCdoB, divulgou nota no domingo informando que terá candidatura própria à presidência da República no próximo ano e que a escolhida é a ex-deputada federal, atual deputada estadual pelo Rio Grande do Sul, Manuela D’Avila, de 36 anos de idade, que iniciou trajetória política como vereadora em Porto Alegre. Em “post” no Twitter, a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, do Paraná, saudou o lançamento da pré-candidatura de Manuela D’Avila, ressaltando que se trata de um grande quadro político. Gleisi externou, porém, a esperança de que PT e PCdoB estarão juntos num eventual segundo turno, ao acrescentar na mensagem a Manuela: “Ali, na frente, nos encontraremos, Manú”.
A decisão do PCdoB de ter candidatura própria à eleição presidencial foi encarada nos meios políticos de esquerda como uma tentativa do partido de investir na sua autonomia. Por outro lado, revelaria uma ponta de descrença quanto à garantia da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto. A despeito de Lula e do PT insistirem nessa postulação, o cenário não é fácil, já que o ex-presidente foi condenado a nove anos e seis meses de prisão pelo juiz Sérgio Moro, um dos executores da Operação Lava-Jato. Em paralelo, há o desgaste do PT e a perda de quadros, em virtude das prisões de líderes de prestígio, envolvidos no escândalo do “petrolão” e alguns ainda remanescentes do escândalo do “mensalão”, que foi descoberto no período em que Lula empalmou a presidência da República.
No que diz respeito à proliferação de candidaturas na faixa de esquerda, é tida como uma reação legítima e natural ao surgimento de candidatos de direita e centro-direita, a exemplo do prefeito de São Paulo, João Doria, do deputado federal Jair Bolsonaro, que está fundando um partido denominado “Patriota” e que tem vinculações com setores militares da linha dura, bem como Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, sempre cotado no PSDB e Ciro Gomes, ex-ministro e ex-governador do Ceará, que concorrerá pelo PDT. O PSOL ainda não definiu nome, mas deverá estar representado na corrida presidencial.
Manuela D’Avila deverá defender, na plataforma de campanha à presidência da República, valores como a retomada do crescimento econômico e reconquista de direitos sociais que teriam sido detonados no governo do atual presidente Michel Temer (PMDB), que se investiu com o impeachment da presidente Dilma Rousseff, do PT. A reforma do Estado em moldes democráticos consta, igualmente, do projeto de poder que a deputada Manuela D’Avila vai propor nos palanques e no Guia Eleitoral. Duas vezes deputada federal, tendo sido líder da bancada do PC do B na Câmara, Manuela é respeitada por adversários pelo seu carisma e poder de argumentação. Seu primeiro mandato, de vereadora na capital gaúcha, foi conquistado aos 24 anos de idade. No esquema que dá sustentação ao governo do presidente Michel Temer, trabalha-se com afinco na procura de um candidato que possa dividir as esquerdas e as oposições, o que não é considerado fácil. Um dos nomes em pauta nas discussões é o do ministro da Fazenda, Henrique Meireles, filiado ao PSD e que foi parlamentar pelo Estado d Goiás. Um virtual desempenho eleitoral dele está condicionado, porém, à retomada do desenvolvimento econômico do país, que praticamente estacionou no período até agora empalmado por Michel Temer.
Nonato Guedes, com agências