Líderes petistas ortodoxos da Paraíba não escondem a decepção nutrida em relação ao prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, considerado “desertor da legenda” por haver abandonado o PT depois de se eleger por ele, na primeira vez, em 2012, migrando para o PSD, pelo qual concorreu à reeleição em 2016, saindo vitorioso em primeiro turno e estando, hoje, entre os nomes cotados para disputar o governo do Estado em 2018. Cartaxo deixou o PT sem muito alarde, mas coincidindo com as primeiras denúncias envolvendo cabeças coroadas da legenda, a nível nacional, como José Dirceu e Antonio Palocci, ainda no episódio do mensalão. A alegação de Luciano foi de que não tinha participação alguma ou qualquer envolvimento com os escândalos, não sendo justo que viesse a sofrer desgaste como efeito colateral.
O que mais irritou petistas locais foi que, além de deixar o partido, Luciano firmou alianças com adversários históricos do PT na Paraíba, como o senador Cássio Cunha Lima, do PSDB. O presidente estadual do PSD, legenda a que Luciano se filiou após deixar o PT, é o deputado federal Rômulo Gouveia, ligado ao grupo Cunha Lima e ex-candidato derrotado a prefeito de Campina Grande. Até a saída de Luciano, João Pessoa era a única Capital do Nordeste administrada pelo Partido dos Trabalhadores. Com a migração dele para o PSD, o PT não controla nenhuma Capital, na região. Os petistas locais lançaram candidatura própria a prefeito em 2014 contra Luciano, mas não lograram sequer provocar o segundo turno. O candidato foi o professor universitário Charliton Machado, que teve um desempenho pífio. Em relação a Luciano, o que se diz, entre os petistas ressabiados, é que ele nunca foi petista ortodoxo, tendo ingressado na legenda por conveniência, não por afinidade.
O que realçou, para os petistas paraibanos, o comportamento decepcionante do prefeito reeleito de João Pessoa, foi o contraponto que passou a ser exercido pelo governador Ricardo Coutinho, do PSB. Remanescente histórico do PT, do qual se afastou por se achar preterido no direito de ser candidato a prefeito da Capital, Ricardo Coutinho obteve vitórias expressivas dentro do Partido Socialista, que tomou das mãos da advogada e ex-deputada Nadja Palitot. Foi concorrendo pelo PSB que Ricardo se elegeu duas vezes prefeito de João Pessoa e, da mesma forma, duas vezes governador do Estado. Nesse ínterim, ele se reconciliou com petistas e foi solidário com a ex-presidente Dilma Rousseff no seu processo de impeachment, trazendo-a à Paraíba para uma audiência pública no Espaço Cultural, da mesma forma como foi correto com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda recentemente se incorporando à caravana que ele empreendeu pelo Nordeste e que incluiu a Paraíba no roteiro. Antes, Ricardo havia levado Lula e Dilma para uma espécie de reinauguração popular de obras de transposição do rio São Francisco no Cariri paraibano, depois de participado da inauguração oficial, em palanque, ao lado do presidente Michel Temer, do PMDB. Mesmo diante de Temer, Ricardo não deixou de reconhecer a importância fundamental que o ex-presidente Lula teve para viabilizar a interligação de bacias no semi-árido nordestino.
As manifestações de apreço de Ricardo a Lula e a Dilma mereceram elogios da parte de deputados como Luiz Couto (federal) e Anísio Maia (estadual). A bancada petista na Assembleia Legislativa mantém independência e até discordância em relação a pontos do governo Ricardo, como a privatização do ensino na rede oficial do Estado, mas externa posições a respeito sem hostilizar diretamente a figura do governador. Também não há ataque sistemático a quaisquer iniciativas que partam do chefe do Executivo paraibano. Diferentemente de Ricardo, Luciano Cartaxo, segundo os petistas queixosos, ampliou as defecções no PT paraibano, arrastando para o PSD auxiliares que eram filiados ou oriundos do Partido dos Trabalhadores mas que passaram a ocupar cargos influentes na administração municipal. Um dos exemplos mais citados é o de Adalberto Fulgêncio, que durante sete anos presidiu o Partido dos Trabalhadores, teve apoio da legenda para ocupar cargo federal em Brasília e, depois, aliou-se incondicionalmente a Luciano Cartaxo, quando passou a exercer secretaria municipal. Para os petistas ortodoxos, o prefeito reeleito de João Pessoa apenas demonstra não ter firmeza de posições nem convicções ideológicas sólidas. Ele está, definitivamente, no “índex” nacional do Partido dos Trabalhadores.
Nonato Guedes