Uma nova onda de preconceito contra os nordestinos passou a prosperar em redes sociais como reflexo das eleições presidenciais do primeiro turno, concluídas no domingo. O pano de fundo da xenofobia, agora, foi a expressiva votação alcançada no Nordeste pelo candidato do PT, Fernando Haddad, que disputa o segundo turno com Jair Bolsonaro (PSL). O diretor de negócios da Agência África, José Boralli, postou mensagem no Instagram denegrindo o povo nordestino. Depois de lembrar que o Nordeste em peso votou no PT, acrescentou: Depois, o nordestino vem para o Sul e Sudeste à procura de emprego.
Boralli foi punido pela direção da agência com pena de suspensão- a direção da empresa alegou que seu posicionamento não refletia a atitude da agência, que, inclusive, mantém nordestinos em seus quadros. O publicitário Nizan Guanaes, um dos sócios da África e tido como um dos melhores especialistas em marketing do país, é natural da Bahia, e há outros baianos e nordestinos trabalhando na agência, daí porque o post de Boralli causou mal-estar. Ele voltou às redes sociais para se penitenciar da atitude preconceituosa, assumindo que havia errado ao se precipitar nos comentários e admitir que a crítica ao povo nordestino extrapolou os limites. Mesmo assim, a punição foi mantida.
As manifestações contra o povo nordestino têm sido recorrentes e não apenas em campanhas eleitorais. Em Estados do Sul e Centro-Sul há movimentos organizados que defendem abertamente o separatismo do Nordeste, promovendo plebiscitos que ganham respaldo legal. Algumas orquestrações tiveram participação declarada de simpatizantes do nazismo em Estados como Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Na verdade, a despeito da maioria de Haddad na região, devido às ligações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o Nordeste, o candidato do PSL Jair Bolsonaro não deixou de ter um contingente enorme de seguidores em centros urbanos influentes no NE. Alguns historiadores isentos consideram que chega a ser patológica a discriminação contra o povo nordestino. Mas artistas famosos, sempre que possível, saem em defesa da região, como fez, ontem, a atriz e escritora Bruna Lombardi, numa postagem de exaltação ao Nordeste.
Em 1982, num ato falho, ao comentar o resultado das eleições diretas para governadores que haviam sido retomadas, e nas quais verificou-se hegemonia do PDS, sucedâneo da Arena, agremiação que dava sustentação ao regime militar vigente até 1985, o governador eleito de Minas Gerais, Tancredo Neves (PMDB), chamou o PDS de partido nordestino, partido dos grotões, numa manifestação infeliz, como admitiram seus próprios aliados políticos. A atitude de Tancredo provocou reação do governador eleito da Paraíba, Wilson Braga, do PDS, que em represália ameaçou propor a exclusão de Minas Gerais do Conselho Deliberativo da Sudene. Wilson ainda foi mais duro: chamou Minas Gerais de gigolô da economia nacional, alegando que o Estado sugava recursos de Estados menores como a Paraíba, contribuindo para o agravamento das desigualdades inter-regionais.
Nonato Guedes