Nascido de uma costela do extinto PMDB (hoje MDB), o PSDB experimentou momentos de glória na conjuntura política brasileira, sobretudo quando polarizou por mais de uma década com o PT o comando do poder federal, sem falar na hegemonia centrada em governos de Estados importantes como São Paulo e prefeituras de Capitais idem. Situando-se como uma alternativa liberal e democrática, obviamente sem resvalar para o sectarismo, o PSDB chegou a ficar na berlinda diante da ambiguidade de posições sobre questões polêmicas, ficando mesmo conhecido como um partido murista, ou seja, que está em cima do muro diante de controvérsias.
Não obstante, no período de sua passagem pelo poder, incorporou mudanças significativas no perfil social do Brasil, procurou investir em Educação e obras estruturantes, tendo como pano de fundo a meta desenvolvimentista. Um ponto alto da trajetória do Partido da Social Democracia Brasileira deu-se na estabilização da economia e da própria moeda, através de um Plano concebido na primeira gestão de Fernando Henrique Cardoso. A valorização do Real como moeda sonante foi outro legado da Era tucana no País. Ainda que a contragosto, petistas como os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Vana Rousseff copiaram modelos de distribuição de renda, refletidos em Bolsa-Renda, Bolsa-Escola, depois agrupados pelo petismo no Bolsa Família, propagandeado ao mundo como o maior projeto de redistribuição de renda já testado.
O PSDB passou a incorporar, também, vícios políticos associados à estrutura partidária fisiológica que perdura no país. Por uma questão de justiça histórica, é fundamental ressaltar que o primeiro escândalo de mensalão, ou seja, pagamento de mesada a deputados para que votassem favoravelmente a matérias de interesse do governo, pipocou no reinado tucano, tendo como protagonista o ex-governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo. A condenação e prisão deste levaram muito tempo para se consumar, o que sugeriu leniência por parte de magistrados do próprio Supremo Tribunal Federal, diante das evidências solares incriminando Azevedo e asseclas no escândalo. O PT, talvez por ter ido com mais sede ao pote, foi quem pagou o pato paga ainda hoje, com a prisão de quadros exponenciais como o próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além do desmantelamento da estrutura partidária devido a prisões de nomes como Dirceu, Palocci, Delúbio, ex-ministros, condestáveis da agremiação lulopetista.
Apesar do desgaste inequívoco e acentuado do PT alguns consideram até irreversível, embora o candidato a presidente Fernando Haddad tenha abiscoitado 45 milhões de sufrágios na eleição de 2018 que consagrou o outsider Jair Bolsonaro o PSB também tem se enfraquecido e é sintomático o fato de não ter ido parra o segundo turno no pleito presidencial do ano passado com a candidatura de Geraldo Alckmin. O desgaste nas fileiras tucanas feriu de morte quadros de expressão que estavam sempre disponíveis para disputas majoritárias, como Aécio Neves, ex-adversário de Dilma Rousseff e pilhado em acusações de que ainda não conseguiu livrar-se. Alckmin parece estar fora de cogitação para embates futuros e o mesmo se dá em relação a José Serra, outrora incensado como melhor ministro da Saúde do mundo mas que derrapou de forma inapelável, a ponto de ocasionar constrangimentos, a dados de hoje, para a cúpula tucana.
O PSDB, que já cogitou um processo de refundação com o fito de situar-se melhor perante a opinião pública, está sendo chamado a deliberar sobre a polêmica reforma da Previdência Social do governo do presidente Jair Bolsonaro. Mas uma reunião convocada para esta quarta-feira em Brasília não descarta debates envolvendo a própria mudança do nome da agremiação seja lá para que denominação seja. O ex-deputado Bruno Araújo (PE) tem sido proposto como alternativa para assumir a presidência da legenda com a missão de reconstruí-la e resgatar seu espaço junto à sociedade. Araújo conta com a simpatia de políticos paraibanos como o deputado federal Ruy Carneiro. Que, além da mudança de nome, preconiza, principalmente, uma ofensiva para a retomada do protagonismo político do PSDB, que, como reconhece, perdeu-se nas veredas das batalhas políticas e eleitorais. O mais urgente, imprescindível, até, é mudarmos o formato de ação do partido, conclama Ruy Carneiro, com justificada razão.
Nonato Guedes