Ainda há divisões dentro do Partido dos Trabalhadores e é certo que elas contribuem para dar um charme de democracia interna, mantra que a sigla alimentou sem necessariamente seguir à risca mas o fato consumado tem muita força e os petistas se encaminham, finalmente, para lançar ao Palácio do Planalto um candidato que seja viável do ponto de vista legal, uma vez que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o grande ícone da legenda, está impedido pela Lei da Ficha Limpa de concorrer, por cumprir pena de prisão em Curitiba acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Deverá entrar no palco, nas próximas horas, como candidato do PT à Presidência da República Fernando Haddad, ex-ministro da Educação, ex-prefeito de São Paulo e pessoa da mais absoluta confiança de Lula, que o tornou uma espécie de candidato in pectoris, por se afinar com suas ordens de forma expressa, incontestável.
O que se debate internamente é como fazer a troca de guarda na cabeça de chapa presidencial, diante de opiniões adversas sobre o discurso a ser adotado de agora em diante. Uma ala do partido ainda insiste na tese de que o ex-presidente tem chance de disputar a eleição, para tanto esgrimindo decisões da ONU e recursos ainda pendentes de julgamento no Supremo Tribunal Federal. Se dependesse desse grupo, Haddad seria registrado hoje no TSE, acatando o prazo final dado pela Corte para que a legenda apresente um substituto de Lula e não seja penalizado com a perda do tempo de TV, embora o partido continuasse sustentando que Lula pode voltar. Uma outra ala é frontalmente contrária à ideia. Argumenta que Haddad precisa de tempo para ser conhecido como candidato de Lula, precisando ocupar com urgência a TV em programas e debates como o nome que definitivamente concorrerá à eleição.
Os próprios seguidores de Lula no Facebook têm emitido sinais de que a estratégia de manter o suspense em torno da candidatura se esgotou. Numa postagem no perfil do ex-presidente, na rede que informava que os advogados teriam conseguido uma segunda liminar na ONU a favor dele, vários comentários pediam abertamente a oficialização do nome de Haddad. Uma internauta ponderou: Coloca o Haddad pelo amor de Deus. Não há mais tempo. Será que vocês não entendem que jamais irão libertar o Lula?. Uma outra eleitora se manifestou, igualmente, de forma apreensiva: Estão demorando demais para lançar Haddad e Manu, estamos perdendo votos… Manu vem a ser a deputada estadual pelo PCdoB do Rio Grande do Sul, Manuela DAvila, convocada para compor a chapa tríplex com Haddad na urna eletrônica, diante da operacionalização legal da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Cumprido o ritual que se exige e a que todos estão sujeitos, sem discriminação ou privilégio, terá início a avaliação das intenções de voto do eleitor na candidatura assumida de Fernando Haddad. É a partir daí que a onça vai beber água. Ou seja, haverá possibilidade de se tirar a prova dos noves, no sentido de calcular se o ex-presidente Lula, direto da superintendência da Polícia Federal em Curitiba, logrará transferir votos em quantidade suficiente para irrigar a horta de Haddad e elegê-lo presidente da República. Nisso, está concentrado todo o suor dos líderes e da militância petista. Na ausência de bola de cristal, claro, cabe aguardar os acontecimentos.
Nonato Guedes