A hipótese de confronto na disputa pela prefeitura de João Pessoa, em 2020, entre o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) e o deputado federal Ruy Carneiro (PSDB) evoca o embate que eles tiveram nas eleições de 2004, ao mesmo cargo, no qual Ricardo foi vitorioso já no primeiro turno, contando com o apoio de forças de esquerda, do então PMDB e da ex-deputada federal Lúcia Braga. Ricardo teve como vice o deputado estadual Manoel Júnior, que atualmente é vice de Luciano Cartaxo. Ruy tinha como vice Ângela Morais, mulher do ex-deputado federal e ex-senador Efraim Morais, então dirigente do PFL, hoje Democratas. Além disso, contava com o forte respaldo da máquina municipal, controlada pelo prefeito Cícero Lucena, e da administração estadual, que estava sob o comando de Cássio Cunha Lima.
Ricardo concorreu pelo PSB depois de ser praticamente expulso do Partido dos Trabalhadores, que chegou a instaurar sindicância para apurar alegadas denúncias de infidelidade do comportamento de RC como deputado estadual. Havia a expectativa de que nomes de expressão participassem da disputa, como o ex-governador José Maranhão, o também ex-governador Wilson Braga e o ex-senador Marcondes Gadelha. O PT lançou candidato próprio, na pessoa do ex-deputado federal Avenzoar Arruda, que obteve uma votação pífia, saindo do páreo com apenas 3%. Ricardo, antes de romper com o PT, encomendou uma pesquisa de opinião pública cujo resultado lhe favorecia amplamente. Ele batia todos os concorrentes virtuais, apontados à apreciação dos eleitores. Foi com suporte nessa pesquisa que Coutinho ganhou incentivo para encarar a disputa.
Com seu ingresso no PSB, ele atropelou a pretensão de uma filiada mais antiga e que tinha linha direta com o ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes, dirigente nacional da legenda a então vereadora Nadja Palitot, advogada criminalista conhecida pela sua eloquência e pelo trânsito junto a camadas médias do eleitorado pessoense. Nadja acabou se incompatibilizando com o PSB e tomando outros rumos. O projeto de candidatura de Ricardo vinha sendo construído junto a líderes sindicais e expoentes de movimentos sociais, que se integraram ao denominado Coletivo Ricardo Coutinho em apoio ao seu mandato como deputado estadual. Na opinião dos analistas, tratava-se de uma candidatura com musculatura eleitoral, tanto mais porque Ricardo consolidou base política em João Pessoa. Eleito prefeito, Coutinho não conseguiu conviver bem com o vice Manoel Júnior, que acabou disputando mandato à Assembleia Legislativa em 2006, sendo vitorioso.
No secretariado da primeira gestão de Ricardo já constava um nome que figuraria como seu vice na campanha à reeleição em 2008 o do arquiteto Luciano Agra, que passou a ocupar a Pasta do Planejamento e acabou mesmo compondo a chapa ao novo pleito, passando por cima de indicações feitas pelo senador José Maranhão e pelo esquema braguista. Além de Luciano Agra, que assumiu a titularidade da prefeitura quando Ricardo renunciou para concorrer ao governo do Estado em 2010, outros nomes conhecidos e respeitados integravam a equipe de Coutinho na primeira gestão. Gervásio Maia, já falecido, assumiu a secretaria de Finanças, no papel de xerife das contas municipais, Simão Almeida, do PCdoB, ficou na Casa Civil, Ruy Leitão na Administração, Roseana Meira na Saúde, Aracilba Rocha na Sttrans e ainda Emília Corrêa Lima.
Ruy Carneiro, durante a campanha, vestiu o figurino do candidato experiente, chegando a criar um projeto com fins eleitoreiros intitulado Se eu fosse Prefeito. Era criticado, todavia, pelo seu forte sotaque carioca e responsabilizado pelo desgaste da administração de Cícero Lucena, que concluía seu segundo período em meio ao bombardeio de opositores em relação a falhas e lacunas em áreas essenciais como educação, saúde, infraestrutura. O candidato Avenzoar Arruda apresentava como principal proposta a construção de um Metrô de superfície, justificando a necessidade de preparar João Pessoa para os desafios da modernidade administrativa. De longe, na opinião dos analistas, Ricardo era o candidato mais carismático o que se comprovou com sua vitória em primeiro turno. Ruy avaliou o resultado como reflexo de uma opção da maioria dos eleitores pela esquerda, que principiava a deitar raízes na região do Nordeste, no bojo da própria eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para presidente da República.
Na conjuntura atual, o PSB tem Ricardo como principal nome para a disputa à prefeitura em 2020, o PT tende a se compor com Coutinho ou em último caso lançar o ex-deputado Luiz Couto, que é secretário do governo João Azevêdo, o PSDB inclina-se por Ruy Carneiro e o MDB tenta atrair o deputado Wálber Virgolino, do Patriota, para seus quadros, com a condição de ser candidato a prefeito da Capital. O esquema do atual prefeito Luciano Cartaxo (PV) parece sem fichas para a peleja, mas interlocutores garantem que poderá haver surpresas no lançamento e nas composições. A particularidade da eleição, contudo, seria, sem dúvida, a reedição de embates entre Ricardo e Ruy, conforme analistas.
Nonato Guedes