A Mesa do Senado Federal, presidida pelo senador Davi Alcolumbre, pediu ajuda ao ministro da Justiça, Sergio Moro, para ser feita uma apuração de fatos ocorridos na eleição para a presidência da Casa no dia dois, em que eclodiram denúncias de suposta fraude em cédulas de votação. O nome do senador paraibano José Maranhão (MDB), que presidiu a sessão, é citado em matérias jornalísticas, por suas ligações com o senador Renan Calheiros (AL) que acabou retirando a candidatura ao pressentir a derrota que, afinal, se concretizou. Maranhão, entretanto, nega com veemência qualquer insinuação de manipulação. De acordo com matéria circunstanciada da revista Istoé, numa última tentativa de tumultuar o processo, diante da derrota de Renan, arquitetou-se uma fraude. Na primeira eleição para decidir quem comandaria a Casa, apareceram 82 votos, quando há somente 81 senadores. Alguém votou duas vezes.
Se for descoberto o autor do vexame, a brincadeira poderá resultar em cassação de mandato. O primeiro pedido de investigação foi feito pelo senador Major Olímpio, do PSL-SP, que considerou ter havido crime, comprometedor para a credibilidade da instituição. O senador José Maranhão qualificou o episódio como um equívoco. Mas alguns parlamentares opinaram que não pode ser considerado um equívoco engravidar a urna de votação com uma cédula a mais que o número de votantes. Os senadores Sérgio Petecão (PSD-AC) e Esperidião Amin (PP-SC) foram enfáticos: O nome do que houve é fraude. Segundo apurou Istoé, dois nomes aparecem como maiores suspeitos nas investigações preliminares: Maranhão e Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE). Coelho foi quem secretariou a sessão. Portanto, somente ele e Maranhão manipularam as cédulas, que iam para as urnas com as assinaturas de ambos. Como Maranhão, Bezerra também era aliado de Renan Calheiros na votação. Imagens de câmeras de televisão mostraram que o voto a mais foi dado a Renan. Bezerra, porém, defendeu-se das acusações e garantiu ter levantado informações para provar que não teve culpa.
– Houve falas acaloradas e eu tive o trabalho, junto com minha assessoria, de recuperar as imagens do momento em que eu e o senador Maranhão votamos e votamos com envelope disse. Já o senador Nelsinho Trad afirmou que os dois votos estavam agarrados e quem assim o fez votou sem envelope. Alguns parlamentares apontaram suspeitas para Acir Gurgacz (PDT-RO). Ele era um dos fiscais indicados pelos partidos para acompanhar a apuração. Reeleito em 2014, foi condenado em 2018 por crimes contra o sistema financeiro e vive em regime semiaberto: dorme na cadeia e sai para trabalhar durante o dia. O Senado já havia enfrentado um escândalo sobre o sigilo da votação dos parlamentares. Em junho de 2000, os senadores votaram pela cassação do mandato do senador Luiz Estevão, acusado de desvio de verbas nas obras do TRT em São Paulo. Um ano depois, os senadores Antônio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda renunciaram aos mandatos após terem sido pegos em um esquema de violação dos votos no processo que afastou Estevão.
Nonato Guedes