Cada vez mais isolado dentro do MDB, o presidente Michel Temer participa hoje do lançamento do documento Encontro para o Futuro, da Fundação Ulysses Guimarães, em Brasília, debaixo de pressão dos seus colegas de partido para anunciar publicamente que não será candidato à reeleição. Estimulado por diferentes diretórios do MDB a lançar pré-candidato próprio ao Planalto, recaindo a preferência no nome do ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, Temer se mantinha reticente, até à noite de ontem, em decretar o fim de sua trajetória política.
Presidente mais impopular da história, com apenas 7% de aprovação, o emedebista tornou-se um fardo para os colegas de partido que disputarão as eleições de outubro e temem ser contaminados pelo seu desgaste nas urnas. Decretar o fim das aspirações eleitorais do presidente e relegar seu governo ao passado é o desejo dos líderes do MDB, que tencionam levar aos holofotes a pré-candidatura de Meirelles como uma tentativa de tirar o governo Temer de cena seis meses antes do fim. O presidente do MDB, senador Romero Jucá(RR), formatou o encontro da Fundação para cristalizar uma aclamação de Meirelles, daí a intenção da cúpula do partido de usar o documento para discutir propostas para o futuro.
Até a noite da segunda-feira, estava prevista uma fala de Temer no evento sobre economia, mas havia dúvida sobre o anúncio formal da desistência em concorrer. Ele se investiu na titularidade da presidência da República por ser vice de Dilma Rousseff (PT) na chapa de coalizão montada em 2014, e pela circunstância do impeachment de Dilma, via Congresso Nacional, a pretexto de acusações de prática de pedaladas fiscais detectadas pelo Tribunal de Contas da União, entre outras irregularidades. Michel Temer, político de origem paulista que ascendeu à presidência da Câmara Federal, foi acusado pelos petistas e por segmentos da sociedade de conspirar para um golpe político contra Dilma que teria resultado no seu afastamento da presidência quando exercia o segundo mandato. Se teve o mérito de manter a maioria parlamentar no Congresso, à custa de concessões políticas e de barganhas, Temer não logrou, todavia, firmar-se como um governante diferente, comprometido com o avanço das reformas. Fez cavalo de batalha da aprovação da reforma da Previdência Social, que, no entanto, continua em banho-Maria devido a resistências partidas da própria base governista.
Há dez dias, o jornal O Globo revelou os bastidores da conversa que Temer teve com Meirelles no Palácio da Alvorada, quando revelou ao aliado a intenção de não disputar as eleições. A demora em oficializar a decisão, no entanto, passou a provocar o descontentamento das lideranças do MDB. As articulações para convencer o presidente a anunciar o apoio a Meirelles estenderam-se por todo o dia de ontem. Os ministros mais próximos, como Eliseu Padilha, da Casa Civil, e Moreira Franco, das Minas e Energia, eram contrários ao anúncio por considerar que ele precipitaria o fim político do governo. Por sua vez, integrantes do Parlamento articulavam-se nas últimas horas para pressionar Temer a fazer o anúncio. Temer foi avisado de que os parlamentares do MDB querem que ele desista oficialmente de sua candidatura durante o evento de hoje e que o partido dê a largada na candidatura de Meirelles.