Já havíamos abordado nesse espaço o fiasco político-eleitoral que é representado pelo presidente da República, Michel Temer (PMDB), que faz um governo abúlico, sem marcos maiores no plano econômico ou social – pelo contrário, fustigado justamente por ter retirado direitos sociais que foram conquistas derivadas de lutas históricas dos trabalhadores. Embora ambicionasse a presidência, Temer não se preparou para exercê-la, o que confirma a sua feição provinciana, não obstante ter raízes em São Paulo e ter sido alçado à presidência da Câmara Federal. Agora, o colunista Augusto Nunes, de Veja, resume a ópera: “O único projeto político de Temer é terminar o mandato”, que, como se sabe, lhe caiu às mãos por ter sido vice de Dilma Rousseff e por ela ter sido alcançada por um processo de impeachment.
Temer realiza um governo opaco, medíocre, sem grandes balizas ou realizações. Ao contrário de outro vice que assumiu com um impeachment – Itamar Franco, sucessor de Fernando Collor em 1992, que legou, junto com sua equipe de que fazia parte Fernando Henrique o Plano Real, de estabilização econômica, perdurável por muitos anos – Temer tornou-se conhecido pelas sucessivas tentativas de investigação por irregularidades, que conseguiu barrar lançando mão do fisiologismo, da barganha ou negociata com congressistas desgastados perante a opinião pública. Rege um governo incapaz de fazer um aceno qualquer de esperança para o povo.
E mais: numa conjuntura super-agitada do ponto de vista político-eleitoral, com formulações as mais diversas para o cenário de disputa em 2018, Michel Temer nem tem votos para se candidatar à reeleição nem tem votos para transferir a um hipotético candidato de sua preferência. Em outras palavras, não logrou forjar um candidato para chamar de seu, como afirmamos. E não pode se habilitar ao que seria uma reeleição porque é altíssima a taxa de impopularidade de que goza, constituindo-se no presidente mais reprovado pela opinião pública em período democrático. Chega a ser piada a taxa de aprovação de Temer orçada em 5% ou 6% – para não dizer ridícula. Como definiu Augusto Nunes, com propriedade, políticamente o presidente Temer procurou cercar-se do que há de pior nas fileiras do PMDB nacional, fazendo-se acompanhar de expoentes da “escória” do peemedebismo, alguns dos quais transformou em ministros. O Eliseu Padilha, um dos emissários da confiança irrestrita do presidente, chegou a definir o governo como “uma suruba” – e esta é a mentalidade que se espalha entre ministros, seguranças e parlamentares que participam do convescote temerista.
Um dos símbolos da Era Temer é o regime semiparlamentarista que ele buscou implementar, governando em parceria com o Congresso Nacional, seja com a Câmara dos Deputados, onde pontificou, ou com o Senado, onde tem aliados de priscas eras. O país tem perdido muito tempo desde que Michel Temer foi investido. Como pode dirigir um País um governante que não dialoga com as lideranças sindicais, com os representantes dos trabalhadores, que abomina intelectuais, que não tem canais com OAB nem com CNBB? A República temerista é a república do compadrio, do mais deslavado toma lá-dá cá, expressão de retrocesso e motivo de chacota mundial. Tivesse um mínimo de grandeza, Temer teria concordado com o consenso que se firmou quando do impeachment de Dilma de que deveria suceder-se eleição direta para um mandato-tampão. Este era o clamor das ruas, onde já estava cristalizado o raciocínio de que a chapa geminada eleita em 94 e integrada por Dilma Rousseff e Michel Temer devia ter sido cassada conjuntamente.
Aliás, este foi o voto magistral do ministro paraibano Herman Benjamin, que não enxergou brechas para separar Dilma e Temer como entes de um mesmo parto, de um mesmo processo viciado, corrompido. Aludindo ao ajuntamento de fartos indícios e de densas provas colhidas ao cabo do processo de investigação judicial eleitoral, o ministro Benjamin, quando da passagem pelo TSE, cunhou expressão que entrou para os anais da História merecidamente: “Não serei coveiro de provas vivas”. Foi a melhor definição já extraída junto a um magistrado que cumpriu com dever de ofício e com o respeito à Constituição e outras leis vigentes, tão aviltadas pelos oportunistas de plantão como Michel Temer. Um presidente sem voto, sem apoio e sem condições de encarar o eleitor para postular a reeleição.
Nonato Guedes