O presidente da República, Michel Temer (PMDB) enfrentará um novo teste na Câmara dos Deputados esta semana. Depois de amanhã, o plenário da Casa deverá votar e aprovar ou rejeitar a segunda denúncia formulada pela Procuradoria Geral da República contra Temer, acusado de chefiar uma “organização criminosa” supostamente aparelhada no Palácio do Planalto. A rearticulação política em Brasília começou com a caça aos votos favoráveis de deputados para salvarem o mandato do presidente no exame do relatório do deputado Bonifácio de Andrada, do PSDB de Minas Gerais.
A denúncia não atinge apenas o presidente da República, mas dois ministros que compõem o seu núcleo de confiança: Moreira Franco e Eliseu Padilha. Nas últimas conversas mantidas individualmente ou em grupo com parlamentares, Michel Temer jogou munição pesada, prometendo apoio do governo à reeleição ou a outras pretensões eleitorais de parlamentares na campanha do próximo ano. No reverso da medalha, o Planalto promete “demonizar” os que não se declararem aliados do presidente ou que atrapalharem as suas chances de continuidade no cargo.
Além dos acenos de apoio logístico às pretensões eleitorais de parlamentares na campanha do próximo ano em diversos Estados, o governo do presidente Michel Temer sinaliza com liberação de recursos oriundos de emendas parlamentares ao Orçamento Geral da União, bem como com o compromisso de execução prioritária de obras públicas e outras demandas reivindicadas há bastante tempo por congressistas. Esse apoio logístico é considerado fundamental para a reeleição de políticos numa campanha que se apresenta temerária em virtude da dificuldade de obtenção de doações por parte de empresas privadas, como reflexo dos escândalos provocados no bojo da Operação Lava Jato em que foram denunciados simultaneamente políticos e empreiteiros, além de empresários de outros ramos de atividade.
Um fator em paralelo preocupa as lideranças políticas quanto à sobrevivência a partir das próximas eleições: o descrédito da classe junto a segmentos da opinião pública, com a perspectiva de cristalização de movimentos pelos votos nulo ou em branco. O cenário nacional indefinido está afetando profundamente partidos como o PSDB, que está desestabilizado internamente conforme avaliam suas principais lideranças. Além do movimento para evitar que Aécio Neves reassuma a presidência nacional, permanecendo no cargo o senador pelo Ceará Tasso Jereissati, há divergências acerca da própria candidatura tucana à presidência da República em 2018. O prefeito de São Paulo, João Doria, que buscava cacifar-se como “candidato novo” com o apoio do grupo de Aécio Neves e dos ministros tucanos de Temer, se desidratou, caiu nas pesquisas e, agora, está menos cotado na preferência dos tucanos do que seu padrinho Geraldo Alckmin, que, por sua vez, coleciona o desgaste de treze anos de gestão tucana no governo de São Paulo e menções na planilha da Odebrecht.
Uma matéria da revista “Veja” aponta que o PSDB, consolidado como oposição desde 2002, hoje ocupa o lugar que sempre foi do PMDB: o de partido majoritário que dá sustentação ao governo no Legislativo. Essa posição dificulta ainda mais a definição de um candidato forte para 2018, dado que só apresenta desvantagens. Como o PSDB é o principal partido da base, a opção de abandonar o governo e concentrar-se nas eleições terá um custo político muito alto – os ministros tucanos não apoiam o desembarque e contrariá-los apenas reforça o desgaste interno, Em segundo lugar, caso a economia se recupere ao longo da corrida eleitoral, os louros da conquista ficarão para o governo e não para o PSDB. Essa hipótese dá vantagem ao PMDB tanto num cenário de lançamento de candidatura própria, quanto diante da possibilidade de o partido apoiar qualquer outra sigla em 2018. O jurista Miguel Reale Júnior é quem define: “O PSDB virou um vassalo do PMDB. Está encalacrado e imerso numa crise de identidade. A falta de posição no passado, quando poderia desembarcar, passou a ter um peso elevadíssimo agora”.
Nonato Guedes, com agências