Há 42 anos, exatos, registrava-se em João Pessoa a segunda maior tragédia que a história conta, quando um barco do Exército afundou na Lagoa, sem salva-vidas, com cerca de 200 pessoas à bordo, matando 35 pessoas, dentre estas 28 crianças, num dia 24 de agosto de 1975, nas comemorações do Dia do Soldado. Cheguei ao parque Solon de Lucena às 14:00 h, com a mulher e três filhos e logo as crianças se encantaram com o barco uma chata de transporte de material do Exército conduzindo durante toda a semana cerca de 80 pessoas por cada viagem de cinco minutos, circulando o anel da Lagoa no sentido horário.
Na última viagem, anunciada pelo piloto, um militar, o barco foi tomado por grande número de pessoas, cerca de 200. O piloto negou-se a dar partida, mas, diante da insistência dos presentes, resolveu dar partida. O barco seguiu, passou diante do Cassino da Lagoa e ao dobrar na direção da rua Padre Meira, no local mais profundo, justamente no sangradouro para a maré do Sanhauá, começou a afundar vagarosamente. Observei de longe a aflição dos embarcados e, no mesmo momento, fui no meu carro na direção da rádio Tabajara que funcionava bem perto, onde hoje se encontra o Forum, ao lado do Tribunal de Justiça, subi as escadas e deparei-me com Geraldo Cavalcanti, que estava de plantão durante o jogo Campinense e CSA de Alagoas. Pedi para interromper a transmissão do jogo para fazer o anúncio, ele passou o som para a cabine e eu lancei um apelo ao Corpo de Bombeiros, que se situava à rua Maciel Pinheiro, a dois quilômetros da Lagoa. Os bombeiros seguiram imediatamente para o local do sinistro, surgindo no mesmo tempo em que eu também chegava da rádio, com vários barcos de borracha, e logo começaram a tirar as pessoas de dentro d´agua, porque o barco afundava lentamente.
Salvaram mais de cem pessoas, na maioria crianças, que se afogavam por falta de salva-vidas. No dia seguinte retiraram os mortos, num triste espetáculo assistido por milhares de pessoas. Trinta e cinco pessoas morreram afogadas. Teve família que perdeu a mãe e três filhos. Tudo foi registrado por mim no jornal Correio da Paraíba, no Diário de Pernambuco do dia seguinte e, com todos os detalhes da tragédia, no livro Opus Diaboli, que escrevi e que ganhou um prêmio da Funjope. A prefeitura, nesta reforma, bem que poderia colocar uma placa registrando os nomes daqueles que se afogaram no local, para advertir do perigo que aquelas águas oferecem, e onde já ocorreram várias mortes, além daquelas, do barco sinistrado.
A maior tragédia ocorrida na Paraíba, no entanto, foi em 1856, quando mais de 30 mil pessoas faleceram por conta da peste do cólera. Sobre isto escrevi um livro, ainda inédito.
Por Gilvan de Brito