Projeta-se para 2018 o cenário de uma eleição presidencial sem a participação de Luiz Inácio Lula da Silva, em virtude de processos judiciais que estão pipocando contra o líder petista e que resvalam na sua possível inelegibilidade. Dentro do Partido dos Trabalhadores já se discute abertamente o chamado “Plano B”, ou seja, uma alternativa para a hipótese de Lula não poder concorrer. Os nomes em evidência não chegam a impressionar ou empolgar a militância, como Fernando Haddad e Jaques Vágner. Mas a verdade é que escasseiam opções dentro do PT, que praticamente sofreu um expurgo com as prisões e condenações de figuras de proa, a exemplo dos ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci. Este, inclusive, tornou-se para os petistas um algoz de Lula, ao fazer revelações comprometedoras, inclusive a de que Lula teria determinado a utilização de recursos do pré-sal na campanha eleitoral de Dilma Rousseff em 2010.
A rigor, do ponto de vista teórico, o nome que o PT deveria lançar, naturalmente, para a corrida presidencial em 2018, deveria ser o da ex-presidente Dilma Rousseff. Como uma forma de reparação diante do fato de que Dilma ficou impossibilitada de concluir o segundo mandato que conquistou nas urnas num embate acirrado com Aécio Neves. Já naquela altura, Dilma capitalizava o desgaste seu e o desgaste do próprio PT, uma legenda hoje associada à criminalidade, ao estelionato político-eleitoral. Mas a chance, por todos os títulos, deveria ser dela. Lula, bem ou mal, concluiu os dois mandatos em que se elegeu. Poderia reforçar o PT em outras esferas, até mesmo disputando o governo de São Paulo. Infelizmente prevalece a visão demagógica de que ele é talhado apenas para a presidência da República, não tendo serventia eleitoreira se concorrer ao Senado, a deputado federal ou a governador.
O nome de Dilma não é agitado internamente porque Dilma não é confiável aos petistas roxos ou ortodoxos. Sempre foi encarada como uma remanescente brizolista e ninguém dentro do PT apostou em conversão sua à liderança de Lula de forma espontânea, só o fazendo compulsoriamente, confrontada com as evidências de que para o PT Lula é o emblema maior – até para ser vendido lá fora como grife, a despeito de estar envolvido ou não em escândalos desde o tempo do mensalão, que alegou desconhecer mas do qual tinha pleno conhecimento, como ficou provado com o tempo. O próprio Lula é que tem cuidado de anular sua biografia, confundindo-se com atos que não se acreditava que fosse capaz de praticar. Mas é o mito, a legenda alimentada pelo próprio PT e indiretamente pela mídia a quem Lula acusa de golpista e parcial. Dilma foi a vítima direta do que os petistas chamam de golpe. Mas Lula é que tem que canalizar esse papel, no raciocínio obliterado dos petistas de carteirinha.
Um eventual depoimento de Lula à Justiça causa dentro do PT uma comoção que um depoimento de Dilma não causaria. Foi assim que se verificou quando ele foi arrastado para depor perante o juiz Sérgio Moro depois de aprontar muita confusão e tumulto numa estratégia de caso pensado para não ter que depor. Lula, de resto, sempre se colocou acima da Lei. E acima dos mortais. Acha que não deve satisfação a ninguém dos atos que praticou, mesmo que tenham sido atos graves, de extrema seriedade, no exercício de uma função espinhosa como a de presidente da República. “Lula é inimputável e pronto”, decretam os petistas e os jornalistas amestrados que seguem o padrão PT de comunicação. Já agora, diante da incógnita sobre a candidatura de Lula, difunde-se a cantilena de que a eleição de 2018 será ilegítima ou inútil se Lula não puder ser candidato. É o que sustenta, por exemplo, Marcos Coimbra, um dos mentores do Vox Populi, em artigo na CartaCapital.
Coimbra diz textualmente: “É claro que sem a presença de Lula, todo futuro governo será ilegítimo. E é certo que o embate PT versus PSDB não se repetirá”. Não se repetirá porque o PT, nem mesmo com Lula, tem garantia de que chegue a um eventual segundo turno. Grande parte do eleitorado brasileiro cansou da polarização entre tucanos e petistas de há algum tempo, não necessariamente de agora. O voto, nas eleições municipais, em nomes estranhos à política como João Doria para a prefeitura de São Paulo já foi um indicador da tendência pelo novo, que desponta junto ao eleitorado, atestando a exaustão com as antigas lideranças que até aqui têm se revezado no comando, a exemplo de Lula, Alckmin, Aécio Neves, etc, etc.
É falsa a opinião de que uma eleição sem Lula é inútil ou ilegítima. Digamos que é uma eleição sem muita emoção, já que Lula, de uma forma ou de outra, provoca polêmica, divide os eleitores. Mas, insisto: a primazia deveria caber a Dilma Rousseff porque não pôde concluir o mandato. Lula sempre viveu no bem-bom. Ainda agora, toda a cúpula petista está presa e Lula anda lépido e fagueiro pelo país, tomando whisky e falando mal de Temer. Endeusado como um santo – ainda que seja um santo de pau ôco.
Por Nonato Guedes