Enfim, tivemos o epílogo do caso de impeachment da primeira mulher eleita presidente da República no Brasil – Dilma Vana Rousseff. Confirmando-se as projeções de analistas independentes ou imparciais, o Senado decidiu por larga maioria interromper o mandato reconquistado por Dilma em 2014 num embate direto com o senador tucano Aécio Neves. O vice-presidente Michel Temer, presidente interino, investe-se na titularidade do cargo e o país vira uma página crucial para as instituições. São dois impeachments em 24 anos – o de Fernando Collor de Melo, em 92, e agora o de Dilma. Agosto, que estava parecendo um mês ‘espichado’ e inacabável, agora pode virar a folhinha do calendário.
De certa forma, respeitadas as condições de temperatura e pressão, Dilma, a invenção política do ex-presidente Lula, ainda saiu no lucro. De última hora, aliados petistas e de outras legendas, que foram fiéis até a undécima hora, lograram abortar o dispositivo que previa a inabilitação de direitos políticos por oito anos, o que significaria que Dilma não poderia concorrer a novos mandatos senão passada quase uma década. Foi uma deferência que Fernando Collor não teve em 92. Mas cada caso é um caso. No episódio envolvendo Collor, havia indícios claros de prática de corrupção nas entranhas do poder. Dilma foi “impichada”, para usar uma expressão popular, pelo “conjunto da obra” – até pelo que não fez, e mesmo que ela e os petistas detestem essa definição.
Cabeças coroadas do PT nacional tinham a esperança de que Dilma Rousseff saísse dessa batalha ou desse moedor de carne como uma grande bandeira passional para alavancar futuros embates que exigirão teoricamente a volta de Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma, diga-se de passagem, deu tudo de si para representar à altura do script que queriam lhe impor. Chegou a participar de gravações de um documentário que está sendo filmado para ser exibido como portfólio da trajetória de uma mulher que arrostou uma série de preconceitos e teria pago caro por isso. As coisas não são bem assim, mas dê-se à tropa de Dilma o direito de assim rotulá-la. O povo terá discernimento para avaliar o que de malfeito foi cometido e não punido pela “gerentona”, pela “xerife” endeusada por Lula e pela mulher “coração valente” que as amigas e simpatizantes insistiram em vocalizar.
Dilma foi digna em momentos dificílimos no processo de impeachment que paralisou o país. Resistiu bravamente a todas as pressões e conselhos para renunciar. Encarou as acusações de frente. Fo ao Senado e se submeteu a uma ruidosa sabatina. Teve a oportunidade de expor seu ponto de vista, ainda que mirando as câmeras e ainda que desenvolvendo raciocínios tortuosos que sempre foram a marca predominante da sua trajetória, como candidata, como mãe do PAC, como presidente da República. Pronto, acabou. O Brasil prepara-se para vivenciar outras experiências, para tentar novamente sair de impasses institucionais e econômicos. Do conjunto da obra de Dilma salvou-se um achado de marketing que pode figurar na lapela da ex-presidente: “O melhor do Brasil é o brasileiro’.
Por Nonato Guedes