O candidato petista a prefeito de João Pessoa, o professor Charliton Machado, teoricamente é identificado como um postulante quixotesco pelas remotas chances de vir a vencer o páreo, polarizado a dados de hoje entre Luciano Cartaxo e Cida Ramos. Por amor à verdade, diga-se que o professor é um homem de coragem. Assumiu-se plenamente como o representante de uma agremiação que ficou estigmatizada por escândalos como o do mensalão e o do petrolão e que acaba de perder a presidência da República. Machado sobressai-se, mais ainda, pela circunstância de se dizer do PT quando em várias capitais candidatos registrados por essa legenda omitem seu vínculo ou suas ligações e abominam o uso da estrela como emblema de campanha.
Pode-se alegar que Charliton não tem nada a perder e, na pior das hipóteses, está formando cacife para futuras disputas políticas a outros mandatos. A candidatura a prefeito de uma Capital presta-se, sem dúvida, à condição de trampolim para incursões mais pragmáticas ou de resultados. Nessa linha de raciocínio, Charliton firmaria seu nome para em 2018, por exemplo, disputar uma deputação estadual. Ou federal. Ou mesmo a senatória. Não é um procedimento estranho. Há exemplos, aos montes, de postulantes que fazem “investimento” no futuro próximo. Para isto, a visibilidade é fundamental. Em 2012, por ter sido candidata a prefeita de João Pessoa, apesar de não ter ido ao segundo turno, Estelizabel Bezerra credenciou-se a outra pretensão. Em 2014, foi eleita deputada estadual na quota dos candidatos ‘in pectoris’ do governador Ricardo Coutinho.
Originalmente, a prefeitura de João Pessoa foi ganha pela sigla do PT. Luciano, em 2012, foi para o segundo turno contra Cícero Lucena, do PSDB, reeditando um antagonismo presente no horizonte nacional. Com a eclosão dos escândalos que puseram na cadeia cabeças coroadas e ex-presidentes do PT, Cartaxo bandeou-se para outra sigla, acomodando-se no PSD que tem como expoente no Estado o ex-vice-governador Rômulo Gouveia. Não há nenhuma acusação formal de conexão de Cartaxo com escândalos da Era petista. Sua decisão de deixar a sigla foi preventiva, com vistas a evitar exploração eleitoreira por parte dos adversários. Por outro lado, é certo que Luciano não se sentia à vontade com a exposição cotidiana do PT aos holofotes, sempre em tom de execração. Não faltou quem insinuasse que o alcaide atual cometeu um gesto de oportunismo político. É avaliação subjetiva que não resiste a outras evidências.
Quanto a Charliton, é jejuno em política – pelo menos na política-partidária. Ele foi alçado a um cargo burocrático, o de presidente estadual da legenda, mas não deixara transparente qualquer intenção de sair candidato já agora. Intimamente, talvez imaginasse que Luciano não chegaria ao extremo de bater em retirada das fileiras do PT. Afinal, ele foi o único prefeito de Capital nordestina a se eleger em 2012 e vinha sendo prestigiado, na medida do possível, pelo governo de Dilma Rousseff. Para além disso, Cartaxo é pragmático. E é o pragmatismo que explica a migração para o PSD. Somente com uma postura mais flexível ele teria condições de fazer alianças com outros partidos. Dentro do PT enfrentaria restrições e teria que se submeter a verdadeiras assembleias para avançar definições em termos de coalizão.
Ironia do destino: Cartaxo tem como adversário maior, ainda que por via oculta, o governador Ricardo Coutinho, que foi seu colega de militância nas hostes petistas. A candidata de Ricardo é, claro, a professora Cida Ramos. Mas o debate se faz contra e a favor de Ricardo, ou contra e a favor de Luciano. Um outro detalhe é que Ricardo tem espaço generoso na mídia, no Guia Eleitoral, para massificar a candidatura de Cida Ramos. Em 2014, Ricardo e Cartaxo juntaram-se momentaneamente, convergindo em torno da candidatura do socialista à reeleição e de Lucélio Cartaxo, irmão gêmeo do alcaide, a senador. Esta eleição municipal significará um divisor de águas na política paraibana, o que está na lógica das previsões de analistas. Vale repetir: são remotíssimas as chances de Charliton Machado avançar substancialmente. Louve-se o gesto ousado que ele verbalizou saindo candidato pelo PT e assumindo que é petista de carteirinha. No Brasil de hoje, são poucos os que se atrevem a tanto.
Por Nonato Guedes