O Partido dos Trabalhadores na Paraíba, nos primeiros anos de sua atuação, adotou “triagem radical” para a filiação de líderes políticos de expressão identificados como “políticos tradicionais” ou vinculados a esquemas econômicos. O ex-senador Marcondes Gadelha, presidente do PSC no Estado, foi um dos rifados pela cúpula paraibana.
Remanescente do antigo MDB, onde integrou o grupo “autêntico” que contestou a ditadura militar, Gadelha, na reabertura política, na década de 80, procurou o PT para se filiar tendo em vista que seu ex-adversário na cidade de Sousa, Antônio Mariz, preparava-se para ser candidato a governador pelo PMDB, sucedâneo do MDB. No PT já estava um companheiro dos “autênticos”, o deputado federal Freitas Diniz. Gadelha conta, em depoimento prestado a Ana Beatriz Nader, que escreveu o livro “Semeadores da Democracia”, que chegou a ser recebido com alegria na cúpula nacional. O próprio Luiz Inácio Lula da Silva ficou entusiasmado e enviou Jacó Bittar à Paraíba com vistas a preparar o ingresso de Gadelha na sigla em formação.
– Depois de tudo acertado – relata Marcondes Gadelha – a executiva do PT na Paraíba divulgou uma nota violenta nos jornais, em primeira página, afirmando que não me aceitaria em razão da minha origem burguesa. Meu pai era empresário, eu nunca vesti macacão, não conhecia o sofrimento do trabalhador e, portanto, não podia ser aceito no Partido dos Trabalhadores. Dado curioso é que os componentes dessa executiva, poucos meses antes, precisamente na véspera do Natal de 1981, de dentro da prisão de Itamaracá, onde estavam presos, escreveram uma bela carta assinada por todos, agradecendo a minha luta pelos direitos humanos, liberdade, anistia e levantamento das censuras. Uma carta realmente muito bonita.
Gadelha surpreendeu-se, então, quando em liberdade graças à anistia, os presos divulgaram a nota contra ele. Recorda-se de um sujeito chamado Calistrato – “engraçado, mais parece nome de remédio para calo! Nunca mais tive notícias dele. Frente a essa nota violentíssima, fiquei sem opção. Não havia outro partido de oposição. Restava-me ir para casa e deixar a política. Em meio a esse clima político, a essa turbulência emocional, meu pai faleceu, deixando-me em uma situação absolutamente dilemática – acrescenta ele, observando que, nesse ínterim, foi chamado para uma audiência com o general João Baptista Figueiredo, último presidente da República do ciclo militar e convidado a ingressar no PDS. Comovido com o gesto de Figueiredo e interessado em se manter na política, Marcondes assinou ficha no PDS, saiu candidato ao Senado e foi vitorioso, derrotando Pedro Gondim, que encabeçava a chapa senatorial do PMDB. O governador eleito foi Wilson Braga, que derrotou Antônio Mariz.
Marcondes, no depoimento, lamentou que no nascedouro o Partido dos Trabalhadores tivesse adotado posições radicais. O fato concreto é que na Paraíba duas outras lideranças foram vetadas, senão formalmente, informalmente, pelo PT: o próprio Antônio Mariz e a ex-deputada federal Lúcia Braga, que teve atuação progressista na Assembleia Nacional Constituinte mas era casada com Wilson Braga, ligado a Paulo Maluf. Lúcia Braga acabou sendo acolhida pelo PDT, na presença de Leonel Brizola, que fez questão de vir à Paraíba abonar sua ficha em solenidade no miniplenário da Assembleia Legislativa.
Hoje, com a presidente Dilma Rousseff alvo de um impeachment e o ex-presidente Lula ameaçado de investigação judicial por irregularidades, o PT busca aliados e candidatos fortes para disputar as eleições municipais, sobretudo nas Capitais, mas deverá ter uma derrota acachapante, de acordo com as pesquisas e os levantamentos que até agora foram produzidos. Em João Pessoa, o atual prefeito Luciano Cartaxo deixou o PT e concorre à reeleição pelo PSD. Quem disputa pela sigla petista é o professor universitário Charliton Machado. “Houve muitas traições”, admite o deputado estadual Frei Anastácio Ribeiro, comentando o esvaziamento enfrentado pela agremiação.
Por Nonato Guedes