O senador Cássio Cunha Lima, líder maior do PSDB na Paraíba, confessou a interlocutores que não vai dar qualquer passo para aprofundar ou incentivar divergências com o PMDB, quer no plano nacional, quer no âmbito estadual. Lembra que há alianças políticas entre tucanos e peemedebistas, como a que se processa em João Pessoa na campanha para prefeito, embora em Campina Grande o PSDB e o PMDB se enfrentem abertamente com as candidaturas de Romero Rodrigues e Veneziano Vital do Rêgo. Nacionalmente, Cássio estaria decepcionado com peemedebistas a quem atribui ingerência para a manobra que teoricamente salvou a ex-presidente Dilma Rousseff de punição por oito anos, como figura na Constituição em casos de mandatários submetidos a processos de impeachment.
Na sessão decisiva de votação do impeachment de Dilma no Senado, o presidente da Casa, Renan Calheiros, propôs uma “emenda à Constituição” retirando o dispositivo que preconizava inabilitação política por oito anos dos direitos de Dilma Rousseff, o que tornaria remota, para ela, a hipótese de concorrer a mandato eletivo a curto prazo, como pretende. O argumento de Renan foi o de que a cassação do mandato e a suspensão dos direitos políticos, de forma concomitante, constituiriam sanções duríssimas aplicadas à presidente afastada e sugeriu, então, que fosse abrandada a punição. Descobriu-se, depois, que houve um acordão no bojo da proposta de Renan para favorecer Eduardo Cunha, presidente afastado da Câmara Federal.
Cássio protestou na hora contra a emenda constitucional, alegando que ela não teria força para revogar dispositivos ou cláusulas pétreas inseridas na Carta Magna. Estranhou, por outro lado, lembrando que isto configuraria a adoção de dois pesos e duas medidas, o que foi confirmado, em tom de desabafo, pelo senador Fernando Collor de Melo (PTC-AL), lembrando que em 92, além de sofrer processo de impeachment, ele ficou oito anos com os direitos políticos suspensos. Somente após cumprida a pena no prazo que foi estabelecido, Collor recuperou a prerrogativa de candidatar-se,tendo disputado o governo de Alagoas, em que sofreu revés e, posteriormente, disputado o Senado, que está exercendo ainda hoje.
Cássio Cunha Lima está se licenciando do mandato no Senado, onde teve papel elogiado, inclusive, nos momentos difíceis da discussão do impeachment da petista Dilma Rousseff, manifestando-se como líder do PSDB na Casa. O parlamentar foi coerente até o último ato, quando votou pelo impeachment de Dilma, observando que ela havia usufruído do amplo direito de defesa mas fora inconsistente nos argumentos invocados. De acordo com o entendimento de Cássio, o impeachment de Dilma tornou-se justificável perante o amontoado de provas documentais recolhidas nas investigações sobre envolvimento da gestão sob seu comando em irregularidades. “Esta fase já foi superada, e temos outros desafios pela frente”, sustenta o parlamentar paraibano, que será substituído pelo empresário José Gonzaga Sobrinho, “Deca do Atacadão”, o seu primeiro suplente.
Cássio aproveitará a licença para cuidar de problemas de saúde mas insiste no desejo de dispor de tempo para participar da campanha de Romero Rodrigues à reeleição em Campina Grande. Considera que, a dados de hoje, o representante tucano é favorito na corrida sucessória mas reconhece que a batalha eleitoral é renhida na Rainha da Borborema.
Por Nonato Guedes