O senador José Maranhão, presidente estadual do PMDB, intensificou nas últimas horas os contatos com lideranças políticas do partido para exame do quadro eleitoral que pode se tornar amplamente desfavorável para o esquema nas eleições de três de outubro. Faltando pouco mais de vinte dias para as eleições, quadros influentes do PMDB foram alcançados por operação da Polícia Federal desenvolvida em conjunto com outros órgãos de investigação a exemplo do Ministério Público, por causa de irregularidades em licitação e execução de obras públicas decorrentes de convênios ou parcerias firmadas com o governo federal. O afastamento “cautelar” da prefeita Francisca Motta do exercício do cargo, bem como restrições a familiares dela e do deputado federal Hugo Motta, sem falar na vulnerabilidade do deputado Nabor Wanderley, candidato a prefeito, desencadearam uma atmosfera de pessimismo nas hostes partidárias quanto ao êxito no prélio municipal.
A prefeita Francisca Motta já desistira de concorrer à reeleição diante do receio de uma orquestração para desgastá-la por falhas administrativas. Foi convocado, então, por consenso, o deputado estadual Nabor Wanderley, que se apresentou para dar combate ao candidato do PSDB, Dinaldinho Wanderley, e a Lenildo Morais, do Partido dos Trabalhadores. Lenildo, vice-prefeito atual de Patos, foi investido nas últimas horas no mandato titular com o afastamento cautelar de Francisca Motta. Setores jurídicos do PMDB movimentam-se com urgência para reverter a situação e devolver a prefeita ao exercício legítimo do mandato, com o argumento de houve precipitação e ilegalidade na medida. Ao mesmo tempo, as gestões buscam preservar a elegibilidade de Nabor Wanderley, que até então vinha polarizando o cenário com o representante tucano. De acordo com versões chegadas a João Pessoa, as reuniões têm se sucedido e outras figuras exponenciais estão sendo acionadas com vistas a retirar o partido da situação desgastante em que se encontra.
Durante muito tempo, Patos foi considerada um reduto emedebista, depois peemedebista, mesmo quando o governo do Estado era exercido por figuras vinculadas a outras agremiações. Mais recentemente entrou em cena o esquema do deputado Dinaldo Wanderley (pai) e do deputado Dinaldinho, sustentando ocupação de espaços num colégio eleitoral importante que exerce reflexo junto a outros municípios da região do Vale dos Espinharas. Os peemedebistas ainda se dizem perplexos com o que consideram uma “manobra ampliada”, em várias frentes, para desestabilizar o partido em Patos, referindo-se à quantidade de personagens envolvidos numa operação que acabou tendo desdobramento policial. O embate vinha seguindo curso normal, apesar da radicalização e do acirramento de ânimos com facções adversárias, mas a “blitz” efetuada nas últimas 48 horas tornou indefinida aparentemente a conjuntura.
O deputado federal Hugo Motta já sofrera um desgaste em virtude do seu alinhamento com o ex-presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (RJ), um dos políticos mais odiados no cenário nacional, conforme levantamentos de institutos para revistas com credibilidade. O desgaste voltara à tona diante da decisão do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), de convocar para esta segunda-feira às 19h a sessão que decidirá sobre a cassação do mandato de Cunha, que teve uma filha recepcionada na casa do deputado Hugo Motta durante os festejos juninos na cidade de Patos. A tendência de Motta seria a de não comparecer para votar, a fim de não ser listado e exposto à execração como suposto integrante de uma denominada tropa de choque de Eduardo Cunha.
A esta altura, com a emergência de fatos novos, mais graves, a prioridade passou a ser o equacionamento da chapa para concorrer à prefeitura de Patos, evitando-se uma derrota acachapante nas eleições convocadas para três de outubro. Os episódios ocorridos em Patos tiveram repercussão em toda a Paraíba e estão sendo objeto de intensa exploração na mídia nacional, a exemplo do portal UOL e do site Congresso em Foco, que destacaram o impacto da ação policial-judiciária na chamada Rainha das Espinharas.
Por NONATO GUEDES