O deputado federal Wellington Roberto, do PR, foi o único da bancada paraibana na Câmara a votar a favor do ex-presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB) na sessão de ontem que culminou com a cassação do seu mandato. A derrota de Cunha foi acachapante. 450 parlamentares disseram “Sim”, 10 declararam “Não” e houve nove abstenções, compondo um quórum de 470 parlamentares. Eduardo Cunha é alvo de três ações penais e sete inquéritos no Supremo Tribunal Federal, parte deles relacionada à Operação Lava Jato. Além disso, possui contas bancárias sigilosas em paraísos fiscais no exterior, juntamente com a mulher, Cláudia Cruz, ex-apresentadora de telejornal da TV Globo.
Wellington Roberto alegou discordar do método de julgamento aplicado ao caso do ex-presidente da Câmara. Dois outros deputados paraibanos não compareceram à sessão: Aguinaldo Ribeiro, do PP, ex-ministro das Cidades no governo de Dilma Rousseff e Hugo Motta, do PMDB. Aparentemente o voto de Motta seria a favor de Cunha, que o prestigiou quando dirigiu a Câmara, mesmo o parlamentar sendo integrante do “baixo clero”, um agrupamento sem maior notoriedade no Legislativo. Na prática, Motta absteve-se de ir a Brasília por estar convivendo com problemas políticos e pessoais em sua cidade natal, Patos, no Vale dos Espinharas, na Paraíba. A prefeita Francisca Motta, com quem Hugo tem parentesco, foi afastada cautelarmente do posto e outros agentes políticos importantes do grupo entraram na mira da Polícia Federal. Faltando poucos dias para a realização do pleito, os episódios verificados em Patos abalaram o deputado Hugo Motta e a própria cúpula do PMDB. Havia a expectativa de que outro deputado paraibano, Manoel Júnior, também do PMDB, votasse a favor de Cunha ou se abstivesse. Júnior, que é candidato a vice-prefeito de João Pessoa, na chapa encabeçada por Luciano Cartaxo, compareceu à sessão em Brasília e votou pela cassação do parlamentar pelo Estado do Rio. Ele negou com insistência, em entrevistas, que fosse participante da chamada tropa de choque de Eduardo Cunha.
Da bancada paraibana, os votos restantes contrários à permanência de Cunha partiram dos deputados Pedro Cunha Lima, do PSDB, Efraim Filho, do DEM, Wilson Santiago Filho, do PTB, Benjamin Maranhão, do SD, Damião Feliciano, do PDT, Luiz Couto, do PT e André Cunha, suplente substituto de Veneziano Vital do Rêgo (PMDB), que é candidato a prefeito de Campina Grande. Pedro Cunha Lima votou tanto pela cassação de Eduardo Cunha como pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ele é filho do senador licenciado Cássio Cunha Lima, que esteve na linha de frente das articulações no Congresso Nacional para agilizar o processo de impeachment de Dilma Rousseff. O deputado federal Luiz Couto, do PT paraibano, foi ostensivo nas suas posições contra Eduardo Cunha. Ele chegou a ostentar um cartaz, publicamente, engrossando o “Fora Cunha” e salientou que a gestão de Cunha foi desastrada e que, pessoalmente, o deputado pelo Rio era nocivo às instituições democráticas.
Informações divulgadas em setembro de 2015 pela publicação “Caros Amigos” apontavam que a filha de Eduardo Cunha, a publicitária Danielle Cunha, após chefiar uma equipe de 20 pessoas que cuidou de todo o marketing digital da campanha do pai à presidência da Câmara, passou a negociar serviços para os parlamentares da Casa. Um de seus clientes era justamente o paraibano Hugo Motta, presidente da CPI da Petrobras. Numa entrevista que conedeu ao jornal “Folha de São Paulo”, a publicitária contou que passou a investir no trabalho com políticos de olho no mercado eleitoral de 2016. “Tem muita gente que me procura pensando já na campanha para prefeituras. E aí eu entro com o diagnóstico”, explicou Danielle. Sem descartar um dia se candidatar, embora admitisse preferência pelos bastidores, ela não escondia seu DNA. “Sou ambiciosa como meu pai”, definiu-se.
Por NONATO GUEDES