Reafirmando uma tendência crescente de participação da mulher na vida pública, a partir da disputa de mandatos, pelo menos duas ex-vereadoras batalham para voltar à Câmara Municipal de João Pessoa: a criminalista Nadja Palitot e a ex-presidente da Fundac, Sandra Marrocos. Uma terceira figura feminina de expressão está no páreo para ocupar cadeira que nunca ocupou: a ex-deputada federal Lúcia Braga, mulher do ex-governador Wilson Braga – ela filiada aos quadros do PDT. Lúcia chegou a participar da Assembleia Nacional Constituinte em sessões decisivas e perdeu o governo do Estado para Antônio Mariz em 94. Ela aposta na sua experiência e no trãnsito que detém junto a camadas mais carentes, beneficiadas por programas sociais executados na gestão do marido.
Nadja Palitot, além de vereadora, foi deputada estadual e passou algum tempo afastada de militância política, mas está ativa, defendendo propostas no Guia Eleitoral e garantindo coerência com o ideário que sempre postulou. A mídia tem destacado que o eleitorado feminino vai decidir as próximas eleições, podendo fazer crescer o número de prefeitas e vereadoras nas 5,6 mil cidades do país. São, ao todo, 75 milhões de eleitoras no país, que registrarão nas urnas 52% dos votos. Em São Paulo, duas ex-prefeitas concorrem à sucessão de Fernando Haddad: a paraibana Luíza Erundina e a ex-ministra e senadora Marta Suplicy. Em Porto Alegre, Luciana Genro é candidata, com chances. Ainda é pequeno o número de mulheres nas diferentes esferas do Executivo e Legislativo. Do grupo de 55 cidades maiores e mais importantes, incluindo as 26 Capitais, apenas três são dirigidas por uma prefeita: Darcy Veras, em Ribeirão Preto (SP), Rosinha Garotinho, em Campos do Goytacazes (RJ) e Teresa Surita, em Boa Vista. Nas câmaras, apenas 12% das vagas são ocupadas por ela. A advogada Nadja Palitot reconhece que há uma desigualdade em relação à participação das mulheres mas alerta que é preciso lutar para a superação das barreiras.
A eleição deste ano ocorre em meio a um episódio que desencantou muitas mulheres – o impeachment da presidente Dilma Rousseff, a primeira mulher a assumir o Palácio do Planalto. Já perto do primeiro turno das eleições, as mulheres precisam deixar a descrença e assumir sua responsabilidade ou padecerão. Este é o ponto de vista de Marcia Cavallari, do Ibope. 88% das prefeituras em todo o país estão com o comando dos homens. Os especialistas em marketing político estão convictos de que as mulheres, mesmo que não sejam eleitas, têm condições de virar uma eleição. A deputada federal Luiza Erundina, que representa São Paulo na Câmara, salientou que muitos preconceitos foram derrubados, mas advertiu que o empenho e a vigilância devem ser permanentes para assegurar a representatividade feminina concreta.
Luiza Erundina esteve na linha de frente do agrupamento parlamentar feminino que se indispôs abertamente contra Eduardo Cunha, quando este era presidente da Câmara Federal. Um grupo de mulheres parlamentares mobilizou-se para que as sessões ficassem sob seu controle em algumas ocasiões, numa represália a atitudes machistas e autoritárias de Cunha, que acabou tendo o mandato cassado. A ex-presidente Dilma Rousseff, em entrevista, frisou que gostaria de ter feito mais pelas mulheres, contribuindo para a sua inserção efetiva no processo de decisões. O impeachment enfrentado, porém, impediu-a de efetivar as mudanças que havia idealizado.
Na disputa pela prefeitura de João Pessoa, a única mulher-candidata é a professora Cida Ramos, do PSB, apoiada pelo governador Ricardo Coutinho. Até pouco tempo secretária de Desenvolvimento Humano do Estado, ela tenta destronar o atual prefeito Luciano Cartaxo, do PSD, que aparece como favorito em algumas pesquisas publicizadas, com condições de definir a parada no primeiro turno. A chapa de Cartaxo é eminentemente masculina. O seu vice é o deputado federal Manoel Júnior, do PMDB. Já a candidata Cida Ramos optou por aceitar como seu candidato a vice o deputado federal Wilson Santiago Filho, do PDT.
Por NONATO GUEDES