Poucos empresários de comunicação exerceram tão plenamente o poder quanto o executivo Marconi Góes de Albuquerque, falecido ontem em João Pessoa. Durante duas décadas ele foi o “big boss” da imprensa paraibana, o “fazedor” de governadores e o “demolidor’ de políticos, ainda que negasse a condição de “fazedor”. Revolucionou a mídia tupiniquim viabilizando a implantação do “off sett’, que conferiu pioneirismo aos “Associados” na remota década do final de 70/início de 80. O jornal “O Norte” era a menina dos olhos de Góes. Fundado em sete de maio de 1908, o jornal fechou as portas definitivamente em primeiro de fevereiro de 2012, depois de ter reduzido o tamanho. Ao lado de Teócrito Leal, Genésio de Souza e outros, Marconi Góes liderou em O Norte uma equipe de jornalistas de alto nível. Havia cinco correspondentes de jornais do Sul baseados na redação da avenida Pedro II: Severino Ramos, Erialdo Pereira, Frutuoso Chaves, Evandro da Nóbrega e este escriba, além do jornalista Luiz Augusto Crispim. Pertencíamos a jornais como O Estado de S. Paulo, Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Correio Braziliense, revista Visão.
Por estratégia ou temperamento, Góes evitava assumir a condição de homem influente, da mesma forma como numa das poucas entrevistas que concedeu após sua saída dos “Associados” negou que fosse especialista em “chá de cadeira” ministrado a governantes e outras figuras influentes. Mas fui testemunha de pelo menos um telefonema de um governador que estava no auge e que Góes recusou-se a atender. Ele atritou-se com políticos como Humberto Lucena, administradores como Ivan Bichara Sobreira e Ronaldo Cunha Lima, até mesmo com Tarcísio Burity, de quem era amigo. A briga maior, entretanto, a chamada briga de cachorro grande, deu-se com condôminos dos “Associados” espalhados por Recife e Brasília. Góes queixava-se de “ciumadas” quanto ao trabalho que empreendeu. Os adversários acusavam-no de centralização absurda e de negativa em prestar contas a respeito da situação contábil-financeira do jornal O Norte e de outras empresas. O Norte fechou por incompetência gerencial – e Góes já não estava mais lá, eis a verdade.
Ele chegou no jornal em outubro de 1969, eivado de vícios e de clima beligerante entre condôminos que tinham papel executivo ou de direção. Coube a Góes operar como algodão entre cristais num primeiro momento, mas ao pressentir que o jogo era pesado partiu para a radicalização. Comandou, praticamente, uma intervenção, como passo indispensável para implantar uma nova filosofia administrativa. O Norte, em todo caso, herdara a “síndrome de Chateaubriand’, refletida na desorganização gestora, por mais que Chatô houvesse erigido um patrimônio nacional, orgulho aqui e no exterior. Numa entrevista ao semanário Contraponto, Góes queixou-se da eterna briga pelo poder e da individualidade de condôminos que só pensavam em tirar lucro, em se beneficiar. Problemas externos, colateralmente, abalaram a estrutura de O Norte, como, por exemplo, a intervenção no Paraiban, resultante de uma liquidação extrajudicial concebida por Zélia Cardoso de Melo e Ibrahim Eris, no governo Collor, com o pleno aval do presidente da República que depois sofreu impeachment. “A intervenção do Paraiban teria dado uma boa manchete. Talvez tenha sido a única notícia que o jornal O Norte não pôde publicar”, confessou Góes, enigmático.
Sim, Marconi monitorava certas informações. Mas não era fácil para ele administrar o contencioso de problemas acumulados sobre sua mesa. No paralelo, deparava-se com a concorrência acirrada de adversário condôminos ou ex-condôminos que faziam de tudo para lhe puxar o tapete. De outro, tinha que ter habilidade para contornar pressões políticas irresistíveis. Era uma tensão permanente dentro da empresa, mas enquanto esteve no leme Marconi Góes segurou a liderança de veículos como O Norte. O que se pode dizer, em resumo, é que nas décadas de 70-80, Marconi Góes comandou um império jornalístico na Paraíba com repercussão no Nordeste. Nessa época, o jornal era mais influente do que a televisão e ninguém cogitava da eclosão de redes sociais ou do aperfeiçamento da internet. Góes não passou em brancas nuvens – muito pelo contrário. Ele tinha o poder, este é o resumo da ópera.
Por NONATO GUEDES