O jornalista e empresário Marconi Góes Albuquerque, de 76 anos, morreu ontem à noite no hospital da Unimed em João Pessoa, vítima de insuficiência renal e outras complicações. O sepultamento está previsto para as 16h de hoje no cemitério Parque das Acácias. Marconi Góes era casado com Dizinha Góes e tinha três filhas. Ele já havia sofrido três AVCs (Acidentes Vasculares Cerebrais), apesar de conservar a lucidez. Durante cerca de duas décadas, ele foi o homem-forte dos Diários e Emissoras Associados na Paraíba, destacando-se como diretor do jornal O Norte, que foi extinto. O conglomerado reunia, ainda, a TV O Norte, o jornal “Diário da Borborema” e TV Borborema, em Campina Grande. Do início dos anos 70 até meados da década de 90, Marconi Góes “reinou” na Paraíba, tendo influência marcante junto à classe política e aos donos do poder.
Marconi Góes deixou os “Associados” por divergências com outros condôminos. Num depoimento que ofereceu à revista ‘Politika’, de Fabiano Gomes, em setembro de 2011, Góes falou de “ciumadas” contra ele por ter construído, com seu prestígio pessoal, uma estrutura sólida do ponto de vista administrativa, diferente de outras empresas do condomínio fundado por Assis Chateaubriand. Na época, circulavam rumores de que a cúpula do Sistema Clube, em Pernambuco, teria decidido em reunião vender o centenário jornal O Norte, optando por manter sob seu controle acionário apenas as emissoras de rádio e TV, consideradas rentáveis financeiramente. Góes limitou-se a comentar, a respeito: “O Norte desapareceu da liderança da circulação e em importância política-econômica simplesmente porque perdeu sua personalidade”.
O ex-dirigente de O Norte testemunhou episódios marcantes da história política paraibana. Ele estava numa mesa com o ex-governador Tarcísio Burity e com o ex-deputado Manuel Gaudêncio, no restaurante “Gulliver”, na orla marítima de João Pessoa, quando o então governador Ronaldo Cunha Lima entrou no recinto e disparou dois tiros contra Burity. Góes conviveu com personalidades políticas como o ex-senador Humberto Lucena, governadores Ivan Bichara, Ernani Sátyro, João Agripino, Ronaldo Cunha Lima. No plano nacional, era antenado com expoentes da alta cúpula dos “Associados” em Brasília e com jornalistas de expressão que pontificavam em páginas de jornais, além de repórteres especiais como David Nasser, lenda do jornalismo brasileiro. Entre a fase áurea e a decadência dos “Associados” na Paraíba, Góes foi alvo da orquestração de inimigos qu chegaram a colocar uma placa-cartaz de frente para a sua casa, com este letreiro: “Marconi, você é um homem morto”.
As adversidades enfrentadas na gestão do conglomerado “associado” na Paraíba levaram Marconi Góes a desabafar que não teve razões para muitas alegrias no condomínio. Quanto a raivas, negou que as acumulasse. “Estão todas devidamente apagadas, não tenho rancor de ninguém”, expressou. Ele retornou à Paraíba depois de um “estágio” de dez anos em outras plagas, nas quais conviveu com Assis Chaeaubriand. Isto fez com que regresasse com bastante experiência no ramo de negócios empresariais focado em empreendimentos jornalísticos. Não obstante, Góes negava que fosse arrogante no trato com alguns líderes políticos. “Aquela versão de que eu dava ‘chá de cadeira’ em certas personalidades era mito”, esquivou-se, para em seguida confessar que exercia o poder na plenitude. Segundo ele, sua família sofreu muito com intrigas políticas na Paraíba. Numa das revelações bombásticas que fez, quando deixou os “Associados”, historiou que o ex-governador Ronaldo Cunha Lima tencionava “lavar sua honra” atirando em Burity e, depois, se suicidar, no restaurante “Gulliver”. O incidente entre os dois políticos foi provocado por versões de que prepostos de Burity, a mando destes, teriam atacado Cássio Cunha Lima, filho de Ronaldo, então superintendente da Sudene (em 92) na TV O Norte.
Por NONATO GUEDES