É a revista “Época” quem denomina de novo mapa astral da política a configuração tendente a emergir das urnas já a partir do primeiro turno, domingo próximo, em Capitais e centros médios das distintas regiões brasileiras. As cartas e os búzios projetam um PT em queda, um PSDB renovado e a ascensão do PRB, este o agrupamento dos evangélicos que possuem emissoras de rádio e TV ou compram horários em veículos de comunicação para levar mensagens e esvaziar o catolicismo. Teremos uma prévia do cenário de 2018? É provável que sim, como também é provável que não. O que se nota é que há um rearranjo ou reacomodação de forças políticas, mas elas estão pulverizadas e muitas vezes concentradas em torno de figuras, não necessariamente em torno de agremiações.
A “fulanização” da política, inclusive, tem sido tema recorrente a atormentar sociólogos, cientistas políticos, intelectuais de extração variada que procuram fazer uma exegese mais aproximada da verdade e muitas vzes naufragam na correnteza de teorias aleatórias e, logo, pouco científicas. No Brasil, o indivíduo se superpõe à organização partidária e à ideologia. É mais fácil recordar o Getúlio do que falar em PSD ou PTB. Juscelino, Tancredo, Lula, Ulysses, Maluf – esses personagens constituem o verdadeiro caldeamento da política-partidária vigente no país. Tome-se a conjuntura de hoje. Em São Paulo, a novidade é o João Doria Júnior, na pole-position da corrida, uma espécie de self made man, ex-apresentador de reality show criador de ciclos de palestras de autoajuda. Nada a ver com política-partidária, dirão os “experts”. É a pura verdade. Mas há momentos na história do próprio país em que tais criaturas florescem sem assustar ninguém. Entram na categoria de fenômenos, espécie de meteoros que podem desaparecer na próxima eleição mas que marcam um pleito, fixam um divisor de águas, desmentem projeções, estatísticas e teses acadêmicas. Se Doria ganhar em São Paulo, não significa necessariamente que o PSDB saiu vitorioso, mas pode significar que o PT perdeu depois de ter reconquistado a prefeitura com o desastrado Fernando Haddad.
Aqui na Paraíba, nesta eleição, há um fenômeno que estava fadado a prosperar apenas na eleição de 2014 quando foi candidato a deputado federal expressivamente votado e que reaparece na eleição a prefeito de Cajazeiras, no Alto Sertão, não como favorito, mas como fiel da balança. Trata-se do cidadão comum Antonio Gobira, das fileiras do PSOL, que – dizem – tira votos da prefeita Denise Albuerque, do PSB, candidata à reeleição. Não há perspectiva de que Gobira venha a ser eleito prefeito, mas em tirando votos de uma postulante, num pleito radicalizado, favorece a outro postulante – no caso, o deputado José Aldemir, que tem apoio do grupo do senador Cássio Cunha Lima, enquanto a primeira mulher a administrar Cajazeiras é respaldada pelo governador Ricardo Coutinho. O que se diz, a nível nacional, é que estamos diante de um universo em transformação. Desse ponto de vista, analisa-se que o Fla X Flu entre petistas e tucanos está se exaurindo. “A sociedade não aguenta mais petistas contra tucanos”, confirma Marco Aurélio Nogueira, professor de teoria política da Unesp. Em São Paulo, quem largou na liderança foi Celso Russomano, um apresentador de programas de TV que migrou para a política. Mas seu destino parece ser mesmo o de afundar nesta reta finalíssima.
É inevitável que, passadas as eleições, os partidos em cena no país contabilizem vitórias e derrotas para extrair uma média ponderada do desempenho que obtiveram nas eleições municipais deste ano, especialmente em Capitais cujo potencial estratégico é decantado em prosa e verso. Ganhar em São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife soma para legendas do ponto de vista da densidade, abrindo espaço para disputas em outros níveis que alcançam até a presidência da República. O pleito a prefeito sempre foi tido como plataforma de lançamento com vistas a voos maiores. Mais arriscados, entretanto, mais fascinantes sob todos os aspectos, pelas potencialidades econômicas que esses centros representam e pela substância eleitoral que podem carrear para legendas dispostas a encarar uma disputa a presidente da República com chances concretas.
Teremos uma nova fornada de gestores, com os eleitores abstraindo a questão da ideologia ou da orientação partidária e concentrando expectativas na solução das demandas mais urgentes que as cidades onde residem ainda ostentam. Afinal de contas, rigorosamente, o prefeito é uma espécie de “office boy” de luxo do cidadão comum, que paga seus impostos em dia e exige, pelo menos, que a praça esteja iluminada, que o caminhão do lixo faça seu cronograma de visitas e, se houver condições, que melhorem os indicadores sociais, na Saúde, na Educação, na Segurança. Tudo isto misturado a uma boa dosagem de equipamentos comunitários indispensáveis para o lazer das novas gerações – afinal, ninguém é de ferro. Aparentemente é uma receita simples, se houvesse recursos e se recursos existentes não fossem desviados, dilapidados ou mal aplicados por administradores inconsequentes. Às favas as siglas e as promessas – parece estar querendo transmitir o eleitor, pedindo em contrapartida que o zelador do município, o alcaide-mor, cumpra a sua obrigação elementar. Este é o pano de fundo das transformações tão alardeadas por cientistas políticos e que exigem deles tantas interpretações a pretexto de identificar os sentimentos dominantes na sociedade brasileira.
Nonato Guedes