Nas vésperas das eleições para prefeito, o cenário de intenções de voto mantém-se inalterado em João Pessoa, de acordo com levantamento apurado pela “6 Sigma” e veiculado no Sistema Correio de Comunicação. O prefeito Luciano Cartaxo (PSD), candidato à reeleição, que deveria ter perdido corpos de vantagem dada a ofensiva montada pelo esquema do governador Ricardo Coutinho em torno da candidata Cida Ramos, ampliou a faixa de liderança em comparação com o levantamento anterior e mantém-se credenciado a liquidar a fatura no domingo, em primeiro turno. Se houver algum resultado diferente, constituirá uma reviravolta incomum na conjuntura política-eleitoral paraibana dos últimos anos.
Dois problemas parecem ter conjurado para dificultar a ascensão da professora Cida Ramos no imaginário coletivo pessoense: o desconhecimento da candidata, que se reflete de algum modo no índice expressivo de rejeição, e a incapacidade de avanço de outros candidatos ditos alternativos, como Charliton Machado, do PT, e Victor Hugo, do Psol. Se eles tivessem avançado substancialmente nas preferências eleitorais ou se pelo menos um deles lograsse surpreender nos percentuais teóricos embutidos nas pesquisas, abrir-se-ia a possibilidade, pelo menos, de um segundo turno, ainda que Machado ou Hugo não estivessem na segunda rodada. Eles (ou um deles) fariam o papel de carregadores de piano, direta ou indiretamente, voluntária ou involuntariamente “empurrando” a candidatura socialista para um patamar mais competitivo. Ainda que Cida não experimentasse um crescimento tão expressivo, deveria estar equipada para adiar a decisão, tornar mais empolgante a disputa e, se fosse o caso, até virar o jogo, tal como vinham sonhando os “ricardistas” empenhados na mobilização de caça aos votos.
O que se nota, na leitura das entrelinhas da pesquisa da “6 Sigma” é que Luciano Cartaxo sustentou um crescimento linear desde a primeira pesquisa. Ou seja, não oscilou para baixo, dentro daquela margem de erro a que aludem os institutos especializados em pesquisas e que vale para mais ou para menos, como estamos cansados de ser avisados em períodos de divulgação de enquetes. Abiscoitando pontos maiores, Luciano Cartaxo selou o destino do pleito na Capital, riscando do horizonte a possibilidade de um segundo turno e de uma surpresa extraordinária. A campanha segue um ritmo monótono até certo ponto. Até mesmo os ataques de que a professora Cida lançou mão, em articulação adrede acertada com o patrono-mor da sua candidatura, o governador Ricardo Coutinho, não desmoronaram a trajetória de Luciano. É como se o atual prefeito tivesse virado um candidato teflon. Nada pega nele. Nenhum grude, nenhuma mancha, nenhuma nódoa. É um gestor asséptico politicamente no ponto de vista da maioria do eleitorado – tão asséptico ou tão teflon que escapou galhardamente da artilharia nacional detonada contra o Partido dos Trabalhadores, no qual militou, fez carreira e se elegeu prefeito pela primeira vez em João Pessoa. Luciano tem sido tratado como uma “entidade à parte”, que passou longe de mensalões, petrolões e outros “ões” que já dinamitaram tantas carreiras ilustres por aí afora.
A figura do “candidato teflon” havia desaparecido de campanhas eleitorais na Paraíba, mesmo as majoritárias estaduais. Quando disputou o governo, Cássio Cunha Lima foi constantemente acicatado porque teve cassado o mandato na segunda gestão acusado de improbidade e conduta vedada, ainda que ele protestasse que foi um dos maiores erros cometidos pelo Judiciário brasileiro. Já Ricardo Coutinho também teve sua quota de acusações e denúncias quando postulou a reeleição em 2014. Sua sorte foi que adversários como Cássio tinham outro rosário de acusações a desfiar ou a responder. Quanto ao empurrão de um terceiro candidato para forçar segundo turno tivemos exemplo emblemático em 90. O pai de Cássio, o poeta Ronaldo, foi para o segundo turno com Wilson Braga na disputa ao governo do Estado. Assegurou de largada a sua vitória ao atrair o apoio de João Agripino Neto, com boa imagem na classe média e com uma votação que, justamente, forçou o segundo turno sem que ele pudesse estar na cédula como candidato. Em compensação, foi ao Guia e ao palanque. Deu Ronaldo, como parecia óbvio. E era óbvio – ululante até.
Luciano Cartaxo, diga-se a verdade, não é um candidato que eletrize as massas, o que faria dele um político carismático. É um gestor médio, não chega a ser nenhuma “Brastemp”. Poderia ser considerado um office-boy de luxo da população pessoense que dá conta do recado, que zela pelos pequenos, médios e grandes problemas. Que calça ruas, arboriza praças, paga o funcionalismo em dia e ainda acena com BRT’s e outros projetos mirabolantes dignos de metrópoles – que pelo menos nesta primeira gestão não saíram do papel. Sinceridade? Grande parte da população nem lembrava mais desses tais projetos engenhosos que viraram promessas, somente acordando para eles quando adversários bateram a campainha no Guia Eleitoral. Mas também é verdade que isto ficou por isso mesmo. O alcaide ainda ganhou uma oportunidade de prometer que precisa do segundo mandato justamente para implantar isso aí que foi prometido no primeiro.
Seja como for, alternando-se variantes aqui e acolá que rondam o atual prefeito de João Pessoa, a evidência inescapável é a de que ele se mantém incólume diante de fatores negativos que pudessem contaminar sua imagem. Reze o gestor e agradeça a Deus se isto for mantido, numa conjuntura em que todos os políticos são suspeitos até que se prove o contrário, invertendo-se a máxima consuetudinária de que todos são inocentes até provas adversas. Nada de tão espetacular nessa apreciação quanto considerar que Varginha tem um ET, o que chegou a ser admitido como façanha digna de aplausos pela ex-presidente Dilma Rousseff. Cartaxo não precisa de ETs, tira de letra as denúncias – algumas até fazem sentido e se mantém intocável. É o biotipo do político de agora, uma fase intermediária em que o eleitor cansou-se do denuncismo e das constatações e quer paz, de preferência fazendo as pazes com quem não apareceu enroscado no noticiário. É o caso de Cartaxo! E tudo isto explica um pouco o que está ocorrendo em seu benefício.
Nonato Guedes