A vitória do prefeito Romero Rodrigues (PSDB) à reeleição, em Campina Grande, sinalizada por pesquisas de intenção de voto, torna a fortalecer o cacife político do senador Cássio Cunha Lima, que desde a derrota ao governo em 2014 para Ricardo Coutinho luta para reconquistar espaços no cenário paraibano. Em João Pessoa, Cássio está com Luciano Cartaxo, que deve vencer, mas o reflexo de uma vitória de Luciano é bola dividida, já que outras forças integraram-se à postulação, como o PMDB de José Maranhão. Em Campina, há um confronto direto opondo Cássio ao grupo de Veneziano Vital do Rêgo, do PMDB.
Na estratégia para vitaminar as chances de reeleição de Romero, Cássio cometeu dois atos importantes: retirou o irmão, Ronaldo Cunha Lima Filho (Ronaldinho), atual vice, da chapa da reeleição, e articulou a inclusão do ex-prefeito Enivaldo Ribeiro como vice, com isto arregimentando o engajamento da deputada Daniella e do deputado Aguinaldo, além de segmentos residuais vinculados a Enivaldo Ribeiro. De certa forma, por deter o comando da máquina, apesar de discriminado pelo governo estadual e até pouco tempo sem maiores canais de interlocução no governo de Dilma Rousseff, Romero logrou promover melhorias em infraestrutura e outros investimentos de fôlego. Isto foi uma credencial, uma espécie de passaporte para reassegurar a candidatura em 2016. A unidade do esquema cassista em Campina Grande é reforçada pelo presidente do PSD, deputado federal Rômulo Gouveia, que experimenta de novo um sabor de revanche, diante da derrota sofrida para Veneziano em outros cotejos.
O governador Ricardo Coutinho movimentou-se em termos administrativos para dotar Campina Grande de algumas obras estratégicas e lançou como candidato a prefeito o deputado Adriano Galdino, do PSB, presidente da Assembleia Legislativa. Galdino ganhará pontos individualmente para outras empreitadas que deverá perseguir, já que Campina Grande é uma vitrine de peso para quem disputar votos no seu território. Mas o próprio “staff” ricardista colocou a candidatura de Adriano no plano da expectativa e da possibilidade dele operar como azarão. A consciência realista nunca alimentou triunfalismos a respeito. Em último caso, era de se apelar ao sortilégio do voto secreto, que apronta quando menos se espera. Posta a conjuntura nesses termos, polarizou-se a disputa entre Romero e Veneziano. Faltou um Vital do Rêgo no palanque para contrabalançar a influência que Cássio Cunha Lima exerce, ainda mais agregado aos Ribeiro. Veneziano está praticamente se cosendo com suas próprias linhas ou se cozinhando nas próprias banhas, tendo em vista que a cúpula do PMDB, representada pelo senador José Maranhão, não tem propriamente prestígio eleitoral na Rainha da Borborema. Vital está na função técnica de ministro do TCU, o que veda qualquer participação sua na catequese de votos em favor do irmão.
Há quem avalie que Veneziano cometeu um erro tático profundo ao insistir em se candidatar a prefeito de Campina Grande depois de ter sido prefeito duas vezes, ainda recentemente, e ter colecionado desgaste em virtude de denúncias formuladas contra ele por adversários políticos ou, então, por iniciativa de órgãos de investigação. O bom senso recomendava que Veneziano procurasse exercer com brilho o mandato de deputado federal, até porque com a ausência de Vital do Senado e da mãe, dona Nilda Gondim, da Câmara, ele era a esperança da família para se contrapor a Pedro Cunha Lima, deputado federal, e ao pai dele, Cássio, senador. Seja como for, os búzios foram jogados e não há mais o que fazer, salvo esperar o desfecho das urnas de domingo. Continua valendo o prognóstico de que em Campina como em João Pessoa a eleição municipal deve ser decidida no primeiro turno.
A questão que vai originar análises políticas, daí em diante, será o desdobramento da queda de braço entre as duas principais forças políticas atuantes em Campina Grande. O senador Cássio Cunha Lima ainda vai cortejar a possibilidade de voltar a disputar o governo? Veneziano, não eleito, será finalmente indicado candidato a governador pelo PMDB? Em 2014, ele ensaiou uma “candidatura natural” que não prosperou. Acabou cedendo vaga para o irmão, Vital, que entrou por honra da firma e por outras razões de interesse pessoal. O projeto de Vital foi executado a contento, porque até a derrota para governador estava nos seus cálculos. Veneziano tem um projeto inacabado, que se arrasta pelo meio do caminho – e a expectativa é saber o que pretende fazer se amargar o outro lado da moeda: a derrota em plena Campina Grande que já lhe consagrou prefeito em outros mandatos. A conferir!
Nonato Guedes